segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Torga, para o serão

"Inocência"

Vou aqui como um anjo, e carregado

De crimes!

Com asas de poeta voa-se no céu...

De tudo me redimes,

Penitência

De ser artista!

Nada sei,

Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!

Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um sol fecundo
Que adoça e doira, tendo

Calor apenas.

Puro,

Divino

E humano como os outros meus irmãos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança

Que faz milagres a bater as mãos."

Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'


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