domingo, 25 de janeiro de 2015

Eu poético: «ponto sem retorno»

ponto sem retorno

não sei onde estavas com a cabeça
quando fechaste a porta
e saíste.
lá fora os choupos largam
molhos de algodão
que rolam pela calçada
no anúncio de mais uma primavera.
mas tu ainda vives o inverno,
pensando que os dias de chuva
são permanentes.
mas tu ainda sais de cachecol,
enganada pelo desejo secreto
de imaginar alguém
que te mima
(e que não tens).
mas tu ainda pensas que o amor
rola ao sabor da incerteza
do compromisso.
tu não sabes que a alegria
se encontra no sol,
na luz da lua,
na promessa do dia seguinte,
no anúncio de mais uma jornada de luta.
desististe. bateste com o passado. perdeste-te na floresta. tens medo do lobo mau. não encontras a casa da avozinha. observas os abutres no céu. a noite cai fria. os silêncios são cortados pelo pio da coruja. a humidade escorre-te pela cara. está frio. tremes. choras. gritas um uivo.
desejas ter de novo coragem
para reconhecer os erros.
mas já não sabes
voltar para trás.

Rodrigo Ferrão


Foto: Rodrigo Ferrão

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