segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

EU



Se existo não sei, disseram-me que existindo não se sente. Não importa. Se para existir tiver que parar de sentir, vou não senti-lo, passando a existir em partes.

O
tempo, tempo já não me tem. Um livro sim, e quando o abro deixo de o ter porque a tê-lo já não sou eu próprio, e não me deixam deixar de me ser.

dias em que me sobe um desaconchego rápido. Vai-se cansando antes de chegar a manhã parecer. Outras noites me pesam sem eu lhes pensar. Já pouco me dói e vou aguentando. Aguentar tem que ser.

É
uma aparição que dói toda, quase todo, leva-me o Presente. Deixou-me uma carta escrita com palavras mais fortes. Enfraqueceu-as para eu as poder compreender- outro modo seria menos possível.

Vida
e vírgulas interrompem-me. Não há possibilidade de a viver senão for completo, senão existindo em continuidade.

Se o há, é vida.



Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: 
http://campodapoesia.blogspot.pt/2010_12_01_archive.html


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