domingo, 5 de maio de 2013

João Vilhena despede-se com «Barco Negro»

7. Barco Negro (David Mourão-Ferreira)


Em meados dos anos 50 (1954) dois brasileiros, Piratini (Antônio Amábile) e Caco Velho (Matheus Nunes) criaram uma canção cujo texto e música dispensam comentários (é ouvir e ler): "Mãe preta". O texto foi proibido em Portugal.

David Mourão-Ferreira escreveu outro texto que nada tinha a ver com o brasileiro – "Barco negro". Amália Rodrigues tornou a música mundialmente famosa. No texto português, a tragédia do pescador tinha substituído a tragédia da exploração e do racismo. Em 1978 Amália Rodrigues gravou "Mãe preta". Mais recentemente, "Barco negro" foi gravado por Mariza e Ney Matogrosso (este para uma telenovela brasileira – "O Quinto dos Infernos") e "Mãe preta" por Dulce Pontes.


Mãe preta 
(Piratini e Caco Velho) 

velha encarquilhada 
carapinha branca 
gandola de renda 
caindo na anca 
embalando o berço 
do filho do sinhô 
que há pouco tempo 
a sinhá ganhou 
era assim que mãe preta fazia 
criava todo branco 
com muita alegria 
enquanto na senzala 
seu bem apanhava 
mãe preta mais uma lágrima enxugava 
mãe preta, mãe preta, 
mãe preta, mãe preta 
enquanto a chibata batia 
em seu amor 
mãe preta embalava o filho 
branco do sinhô

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Barco Negro 
(David Mourão-Ferreira) 

De manhã, que medo, que me achasses feia! 
Acordei, tremendo, deitada n'areia 
Mas logo os teus olhos disseram que não, 
E o sol penetrou no meu coração. [Bis] 

Vi depois, numa rocha, uma cruz, 
E o teu barco negro dançava na luz 
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas 
Dizem as velhas da praia, que não voltas: 

São loucas! São loucas! Eu sei, meu amor, 

Que nem chegaste a partir, 
Pois tudo, em meu redor, 
Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis] 

No vento que lança areia nos vidros; 
Na água que canta, no fogo mortiço; 
No calor do leito, nos bancos vazios; 
 Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

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