David Mourão-Ferreira escreveu outro texto que nada tinha a ver com o brasileiro – "Barco negro". Amália Rodrigues tornou a música mundialmente famosa. No texto português, a tragédia do pescador tinha substituído a tragédia da exploração e do racismo. Em 1978 Amália Rodrigues gravou "Mãe preta". Mais recentemente, "Barco negro" foi gravado por Mariza e Ney Matogrosso (este para uma telenovela brasileira – "O Quinto dos Infernos") e "Mãe preta" por Dulce Pontes.
(Piratini e Caco Velho)
velha encarquilhada
carapinha branca
gandola de renda
caindo na anca
embalando o berço
do filho do sinhô
que há pouco tempo
a sinhá ganhou
era assim que mãe preta fazia
criava todo branco
com muita alegria
enquanto na senzala
seu bem apanhava
mãe preta mais uma lágrima enxugava
mãe preta, mãe preta,
mãe preta, mãe preta
enquanto a chibata batia
em seu amor
mãe preta embalava o filho
branco do sinhô
Barco Negro
(David Mourão-Ferreira)
De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração. [Bis]
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]
No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.
João Vilhena em:
Blog: http://joaovilhena.carbonmade.com/Facebook: https://www.facebook.com/artistjoaovilhena
Sem comentários:
Enviar um comentário