segunda-feira, 5 de março de 2012

Sobre o acto de desfazer as malas, ou O Retorno

Após quase quinze anos sem visitar minha terra natal, me ausentei desta Lisboa de sempre em busca de raízes distantes.

Se o livro que agora começo se inaugura com a constatação de que «na metrópole há cerejas», naquela a que regressei havia caju, carambola, cupuaçú... Faltou só a jabuticaba da minha infância.

Regresso à cidade do meu coração, e a este blogue que tanto me instiga a mais, ainda com o sabor líquido do côco nos lábios e com as palavras de Clarice (Lispector), Carlos (Drummond de Andrade) e Chico (Buarque) ecoando na cabeça.
Quero celebrar o meu Retorno, com o de Dulce Maria Cardoso, vencedor do Prémio Especial da Crítica LER/Booktailors 2011, escolha do Jornal Público como Livro do Ano 2011.

Quero retornar com uma promessa de viagem: não na conexão Luanda - Lisboa que conhecemos, hospedeiras de bordo, catering e a ânsia pela vista aérea do Tejo, mas sim de imersão ao âmago de uma ferida que ainda rasga, lateja, amarga a história recente deste país que também é meu.

«Um avião risca o céu a direito. Silencioso. Como um giz preguiçoso nas mãos invisíveis de deus. Noutro tempo ter-lhe-ia respondido daqui de baixo. Talvez ainda responda. Noutro tempo ter-lhe-ia escrito, talvez ainda escreva, em letras bem grandes a todo o comprimento do terraço para que não possa deixar de ver-me, eu estive aqui.
Eu estive aqui.»


Assim termina. E nós? Nós ainda agora começamos...

1 comentário:

  1. Ansiosa por esta Viagem!

    Força Luma, o retorno nunca é só um regresso. É um processo muito mais denso, com quilometros e distâncias sempre presentes,onde impera a identidade ou a nãoção dela, num todo que um "simples" regresso não contempla.

    Até já :)

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