quinta-feira, 23 de agosto de 2012

1º Parágrafo: Berlim Alexanderplatz


Encontrava-se diante das portas da prisão de Tegel e estava livre. Ainda ontem tinha ancinhado batatas lá para trás nos campos com os outros, em vestimenta de prisioneiro, agora envergava um casaco de Verão Amarelo, eles continuavam a ancinhar, lá atrás, ele estava livre. Deixou passar eléctrico atrás de eléctrico, colou as costas ao muro vermelho e não saia dali. O guarda-portão, passeando para cá e para lá, várias vezes se abeirou dele indicando-lhe o carro a tomar, ele dali não saia. Chegara o momento terrível (Franze, pá, terrível porquê?) tinham expirado os quatro anos. As negras portadas de ferro, que vinha contemplando de há um ano para cá com crescente asco (asco, asco porquê?), tinham-se fechado atrás de si. Punham-no novamente fora. Lá dentro ficavam os outros carpinteirando, envernizando, separando, colando, ainda lhes faltava dois anos, cinco anos. Estava na paragem.


* Tradução de Sara Seruya e Teresa Seruya

1 comentário:

  1. Li-o recentemente, gostei muito, mesmo sem ser uma obra fácil
    Um excelente retrato de um submundo berlinense com dificuldades resultantes da imposições à república de Weimar.

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