terça-feira, 7 de janeiro de 2014

É do borogodó: quem não viu passar as renas

elejo a bananeira minha árvore de natal. sobretudo por gostar do verde das folhas no contraponto brasileiríssimo do ouro das bananas que também são enfeites comestíveis. não recuso os pinheiros e gosto muito deles por sinal, mas as bananeiras me parecem hermeticamente faceiras – quem nunca duvidou ter uma serpente escondida embaixo de suas palhas? prudente dúvida. por fim ou entre o começo e o que pode ser o fim, as bananeiras detém atenção das mentes despudoradas com fálico arcabouço da saciedade. sacia-me, sacia-te, sacia-nos. toda banana é uma forma de esplendor. a flor da bananeira desabrocha digna de uma ode, quiçá uma epopeia para fazer valer seu sabor sobre a maçã eleita musa na égloga do poeta. tantos são os argumentos de minha tese, elejo a bananeira árvore festeira do renascimento natalino. só sinto falta dos piscas – tantas vezes desejo cercar o abajour de piscas para vencer a tristeza (daí reformulo a gana com a hipócrita necessidade de reduzir os consumos inúteis de energia quando energia me falta). no que tange a perfeita alquimia, para as bananeiras melhor seriam pirilampos. já as renas nunca vi. nunca vi passar rena alguma, nem ouvi tilintar de sinos a meia noite. devia estar dormindo. tenho cultivado sambas embora nada saiba sobre o majestoso de sambar. sambas que pisam chão de terra batida e que não são menores que os cantos sob sinos (não fosse a discriminação do “hierarquicamente superior” sugerida pelos intelectuais). nem sei porque escrevi tudo isto para falar de uma festa para qual não ligo a mínima mas não deixo de comemorar (são os costumes, diga-se, e o respeito à mesa posta). o fato é que deixei voar as renas, dispensei a barba, o veludo e o saco de presentes (os tempos são outros); voaram os pirilampos para bem longe por causa da poluição e a bananeira, uma fileira de bananeiras ficou depositada no meu imaginário junto dos gatos que miavam no terreiro da chácara dos meus avós (que eram estrangeiros e que antes de tudo gostavam mesmo de pinheiros).

Penélope Martins

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