sábado, 23 de maio de 2015
sexta-feira, 22 de maio de 2015
Snobidando: Wislawa Szymborska
Prefiro
Prefiro cinema.
Prefiro gatos.
Prefiro-me gostando dos homens...
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não redondos
para serem comemorados cada dia.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países consquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
a outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do Ser Ter a sua razão.
Wislawa Szymborska - Rosa do Mundo
Fotografia de Christian Coigny
Prefiro cinema.
Prefiro gatos.
Prefiro-me gostando dos homens...
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não redondos
para serem comemorados cada dia.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países consquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
a outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do Ser Ter a sua razão.
Wislawa Szymborska - Rosa do Mundo
Fotografia de Christian Coigny
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Gonçalo Viana de Sousa - O Flâneur das Sensações
Meu querido José
Efraim continua pela
Europa, desta vez turista pelas margens do Neva, o maganão! Anda revisitando
partes de Petersburgo e bebendo copinhos de vodka com pão de couve e caviar do Mar Cáspio! Diga lá
se não é caso para ficar nerrrrvoso?
Envio-lhe mais uma
impressão dos Cadernos de Nicosia,
essa coisa assim chamada (nem sei mais como lhe chamar!). Notou já que a sua
teimosia em querer etiquetar tudo está passando para mim? Interessante como nos
influenciamos por aquilo e por aqueles com quem existimos para dentro e para o
mundo.
Agradeço a sua visita e
o seu presente que, como bem sabe, é escusado. A sua companhia basta. Como
sempre.
Jovem das viagens na
nossa literatura, esta impressão queria ser um caminho a percorrer pelos cumes
da solidão, mas tudo é incerto e pedregoso, de modo que não sei a que estevas e
maias recorrer mais. (Note que uso uma flora literária que vai desde o
Romantismo até ao copo de vinho, exuberante, do Douro.)
(…) Quanto a isso, já
sabe o que o espera. Não tenha ideias de mais publicações minhas nas loucuras
virtuais. Não sou criatura de papel nem filho de ficções outras! O esquecimento
é a melhor literatura para quem nunca
aspirou a nada que não fosse a viagem e a longa e saborosa solidão de tardes
numa qualquer varanda de um hotel europeu e cosmopolita.
Em Nicosia tive
revelações literárias que só me sucedem quando estou viajando e escrevinhando
por aí. Olhe, essa é uma boa definição para a minha mão que escreve: um
escrevedor. E sabe porquê? É que escrevedor é aquele que escreve mal, que
escreve sem valor artístico e literário, sendo mais um a juntar à pacotilha
literateira que por aí abunda.
Ironicamente, sou
escrevedor. Na realidade, aquela da carne e do sangue, sou um flâneur.
E explico-lhe o porquê
de me considerar um flâneur, meu querido jovem do Romantismo Redentor.
(…)
Bom, já tem aqui
material para uma próxima publicação. Mas aviso-o que só revelará essa longa
divagação quando tiver em mãos nova impressão dos impossíveis Cadernos de Nicosia.
Quanto à música,
imagino-o a imaginar-me rodeado de Wagner e Beethoven e Chopin e Debussy e
Ravel e Villa-Lobos e Tchaikovsky. Mas imagina mal! Ando em volta de Bach e de
Haydn. Haydn é soberbo, sublime e poderoso! Faz lembrar aquelas catedrais
imponentes e infinitas de luz e sombra e retalho e exagero!
Bom, segue a impressão.
Um abraço deste sempre
Seu
Gonçalo V. de Sousa.
Solidão
Na varanda de todos os hotéis largos, grandes,
universais, civilizados e cosmopolitas existe um je ne sais quoi de moderno e de inconstante. São os hóspedes que
chegam de lugares distantes e exóticos, com panamás claros e luminosos, ou
então com casacos grossos e gelados por um fiorde ou por uma tundra desses
frios e distantes países-continentes.
E depois é o cheiro dos perfumes das
mulheres do Norte, subtis, ebúrneas, solenes, de um encanto tácito e
maravilhoso, que contrasta com o moreno marmóreo e ruidoso das deusas do Sul,
que baloiçam ao som do ritmo das sensações e da vida. Enquanto as do Norte,
pálidas e selectas, folheiam revistas de respeito, as do Sul, barafustam por
isto e por aquilo, numa orquestração de braços esfuziante.
E tudo isto pode ser observado num
confortável sofá enquanto as bebidas quentes ou frias, conforme o momento e a
região, são servidas por funcionários sempre exemplares, prestáveis e quase exageradamente lambidos.
Há qualquer coisa de maravilhoso nestes hotéis
cosmopolitas e nestas cidades-navio que me fazem querer viajar sempre mais, por
mais tempo, e mais longe. São os museus e as catedrais e os cafés e as galerias
e as vitrines. Mas o mais maravilhoso na viagem está no perder-se. Sim, no
perder-se pelas ruas, pelas avenidas, pelos jardins, pelos cemitérios, pelas
estátuas e fontes. Isso sim é viajar. Isso e aquela sensação de conhecer as
pessoas momentaneamente, episodicamente, e jamais voltar a ter uma conversa, um
gesto, uma palavra. Que delícia essa do momento único, irrepetível e para
sempre perdido. Tivessem os românticos compreendido esta questão e não seriam
necessárias nem Elviras nem Margaridas nem Ofélias nem tantos suicídios carnais
e espirituais. Tivesse o homem do século XIX entendido esta tão simples e
singela verdade e as alcovas estariam vazias e as gares e os paquetes cheios. A
viagem teria sido o motivo de interesse, e não o amor pecaminoso, adúltero. E
não o romance psicológico e de costumes.
Mas este é outro século, o da viagem e do
momento. E da solidão.
A maravilha do poliglotismo é uma explosão
de sensações. As línguas e as culturas de todo o mundo já não se encontram
todas num só país, encontram-se todas numa sala de hotel, num restaurante, numa
rua, e isso é a civilização.
Mas nada se compara ao delicioso momento
em que nos levantamos do sofá onde silenciosa e confortavelmente observamos o
mundo encaixilhado numa sala, vestimos o nosso tweed, terminamos a nossa
bebida, de preferência de malte, e saímos pela porta principal, gloriosos,
imaculados, elegantes e sós.
Aqui se resume toda a fórmula do homem
viajado do nosso tempo. Aquele que triunfa no meio da multidão, ainda que
sempre sozinho. Aquele que espanta pela sua cultura e pela sua excentricidade,
ainda que solitário. Aquele que vagueia pelos quartos e varandas e terraços de
todos os hotéis do mundo e continua sempre o mesmo. Rodeado de multidões, é a
solidão a melhor companhia de quem tem a existência como um cais de embarque
para todos os mundos e todos os mitos.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
a-ver-livros: pelos telhados
978-989-20-5765-1
978-989-20-5765-1
Número singelo, separado por hífenes. O código do meu primeiro livro, Todos os Tempos Verbais.
Resta sair da gráfica e ir ter convosco. Em breve, muito em breve.
O que amanhã não sabe,
o ontem não soube.
Nada que não seja o hoje
jamais houve.
Paulo Leminski
Deixo-vos mais um doce, a nota que o acompanha:
o ontem não soube.
Nada que não seja o hoje
jamais houve.
Paulo Leminski
*A ilustração (e futura capa) é de David Pintor
Rodrigo Ferrão
quarta-feira, 20 de maio de 2015
a-ver-livros: o pó
terça-feira, 19 de maio de 2015
além
É do borogodó: Sobre formigas
do que uma formiga a carregar
uma folha
cem vezes maior do que ela.
A carregar? …ou a vogar
em soberbo barco a vela,
sacudido pelo ar?
A formiguinha assemelha-se
aos viventes, já sem forças
quando sobre eles desaba a dor.
Uma formiga não morre
como morrem os mortais:
desiste de existir.
***
– Armindo Trevisan, poeta gaúcho nascido em Santa Branca, em 1933. Doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Fribourg, Suíça, com a tese Ensaio sobre o problema da criação em Bergson (1963).Nesse mesmo ano, fez curso de aperfeiçoamento em Paris. De 1969 a 1970, e de Setembro de 1974 a Fevereiro de 1975, foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Actuou como Professor Adjunto de História da Arte e Estética na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, de 1973 a 1986. Leccionou, também, no curso de pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS até 2000. Poeta, crítico de arte e ensaísta, tem obras traduzidas em várias línguas, especialmente alemão, italiano, espanhol e inglês. Foi escolhido como patrono da 47″ Feira do Livro de Porto Alegre.
uma folha
cem vezes maior do que ela.
A carregar? …ou a vogar
em soberbo barco a vela,
sacudido pelo ar?
A formiguinha assemelha-se
aos viventes, já sem forças
quando sobre eles desaba a dor.
Uma formiga não morre
como morrem os mortais:
desiste de existir.
***
– Armindo Trevisan, poeta gaúcho nascido em Santa Branca, em 1933. Doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Fribourg, Suíça, com a tese Ensaio sobre o problema da criação em Bergson (1963).Nesse mesmo ano, fez curso de aperfeiçoamento em Paris. De 1969 a 1970, e de Setembro de 1974 a Fevereiro de 1975, foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Actuou como Professor Adjunto de História da Arte e Estética na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, de 1973 a 1986. Leccionou, também, no curso de pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS até 2000. Poeta, crítico de arte e ensaísta, tem obras traduzidas em várias línguas, especialmente alemão, italiano, espanhol e inglês. Foi escolhido como patrono da 47″ Feira do Livro de Porto Alegre.
*Penélope Martins na nossa ponte para o todahoratemhistoria
segunda-feira, 18 de maio de 2015
Nunca soube escrever, nunca pode saber escrever
Tem o ato da escrita incontável encanto. Talvez fruto de mágica poção, quem sabe produto de feitiçarias desconhecidas, com certeza uma das mais belas metafísicas do Universo. Para além disso, é escrever uma lição de humildade. Por certo umas das mais profundas que pode alguém experimentar, a deviam todos sentir, nem que por momentos breves e logo esquecidos. É esta sugestão especialmente destinada aos que proporções desajustadas de ego têm, com supremo respeito meu à herança de traços de personalidade.
Por fruto de mero acaso epistémico surge-nos nas vísceras entranhado o interesse por se começar a dar, com maior ênfase que até então, certo tipo de sequência a determinadas letras e palavras. Coisa engraçada, mais bonita do que parece, mais fabulosa do que quer parecer, isto porque é o próprio processo de escrever a coisa mais humilde do mundo. Com grande entusiasmo se começa. Escrevem-se umas coisas banais a princípio, de seguida outras que no próprio entendimento assim não se pensam, vai o interesse alargando, vão as capacidades crescendo, vai o ego ganhando volume no natural e devido acompanhamento que merecem estas transformações. Mais se vai escrevendo e mais gosto se vai tendo por escrever, raciocínio este tão certo como a aritmética de dez e dez vinte serem. Pessoas de beleza nunca vista, lugares da Terra recheados por estrelas, um cão contador de histórias. Todas estas existências consequência de uma imaginação que fértil se julga. É o dia inteiro passado com um lápis cada vez mais pequeno na mão ou com os dedos no teclado, na máquina de escrever no caso de não haver preferência por inovações da tecnologia. O que interessa é escrever.
Mais se escreve mais gosto se vai tendo por outras leituras, esta mais uma conclusão matemática de entendimento óbvio. Sente-se neste momento o homem chefe de todas as coisas do céu. Muito se lê, todos os dias todas as horas e a todas as horas de todos os dias. Pelas mãos nos passam todos os livros do mundo, bons e muito bons, maus e muito maus, apenas extremos que meios termos não existem nas coisas da literatura. É neste exato ponto que começa o ego a descrever uma trajetória descendente no que às próprias dimensões diz respeito. Cada vez mais pequeno, diminui todos os dias e a todas as horas, diminui com cada palavra lida que escrita por mão alheia. Diminuição do ego sinónimo de aumento da angústia, assim é e assim tem que ser, foi a Natureza construída de forma perfeita, tende o homem para a insignificância. Na cabeceira cada vez mais livros em monte, quase ao teto chegam, muito se vai lendo. Quanto mais leituras feitas menor vai o ego ficando e maior peso vai a angústia ganhando, que evoluem estas coisas de acordo com uma natural lei de proporção. O pedaço agradável do sofrimento surge quando se começa a angústia a transformar em humildade. Acontece isto no momento em que não mais é o ego que uma criatura com vários tons de invisível, apunhalada pela genialidade intocável de terceiros. Continua então o processo de criação escrita a ocorrer, desta vez deslizando por caminhos calmos. O mesmo destino tem o desejo de leitura, ambos tornados infinitos no íntimo de cada um. Quando se completou a transformação de angústia em humildade, sente o homem as mais sinceras certezas possíveis, vindas estas acompanhadas pela mais alegre expressão de conformação. Nunca soube escrever, nunca pode saber escrever.
Gonçalo Naves
Foto tirada daqui :http://www.alunosonline.com.br/portugues/poemas-literatura-portuguesa.html
Poema do Ódio que se julga Amor - Zink
Há coisas de que gosto. E há muita coisa de que não gosto.
Não gosto de violência. Doméstica ou da(s) outra(s).
Mas gosto deste Poema do Ódio que se julga Amor.
É do Rui Zink. Sim, também gosto dele, foda-se.
Ana Almeida
Não gosto de violência. Doméstica ou da(s) outra(s).
Mas gosto deste Poema do Ódio que se julga Amor.
É do Rui Zink. Sim, também gosto dele, foda-se.
Ana Almeida
domingo, 17 de maio de 2015
Snobidando: Carlos Poças Falcão
Carlos Poças Falcão
CORAÇÃO ALCANTILADO
Opera Omnia
2007
CORAÇÃO ALCANTILADO
Opera Omnia
2007
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