As editoras não se definem apenas pelos autores que aceitam ou recusam, mas sobretudo pela maneira como os aceitam ou recusam.
Fundada em Junho de 1979, a Antígona iniciou a sua actividade com a publicação do livro Declaração de Guerra às Forças Armadas e outros Aparelhos Repressivos do Estado. Esta obra emblemática anunciava já o programa editorial que se tem vindo a concretizar, sem desvios, nos últimos trinta e um anos.
Hoje, com mais de 200 títulos, a Antígona mantém a sua paixão inicial pelos textos subversivos, e vai continuar, ainda por muito tempo, a empurrar as palavras contra a ordem dominante do mundo.
Desta editora que resiste, que tem no seu editor Luís Oliveira uma figura de referência no mundo dos livros e que é um amante dos livros, segue-se a filha que é responsável pela chancela Orfeu Negro e Orfeu Mini, que são já uma marca de sucesso e qualidade.
Para destaque um livro, entre tantos e tantos, com tanta qualidade...
Hoje, com mais de 200 títulos, a Antígona mantém a sua paixão inicial pelos textos subversivos, e vai continuar, ainda por muito tempo, a empurrar as palavras contra a ordem dominante do mundo.
Desta editora que resiste, que tem no seu editor Luís Oliveira uma figura de referência no mundo dos livros e que é um amante dos livros, segue-se a filha que é responsável pela chancela Orfeu Negro e Orfeu Mini, que são já uma marca de sucesso e qualidade.
Para destaque um livro, entre tantos e tantos, com tanta qualidade...
Max Aub é autor de mais de 40 títulos, entre os quais Crimes Exemplares, publicado em 1957 e que, em 1981, conquistou o Grand Prix de L'Humour Noir em Paris. São 87 confissões curtas, secas e directas, por vezes muito violentas, outras com uma certa beleza poética e galhofeira, feitas por quem praticou um crime contra a vida de alguém. Crimes de todo o tipo, por envenenamento estrangulamento, etc., em que se constata não só a grande perversidade humana, mas também uma inacreditável ingenuidade. O livro mantém uma nada surpreendente actualidade, num mundo como o nosso onde a violência real parece cada vez mais ficção. Ou o contrário. Esta edição especial de grande formato apresenta os delitos originais e 32 ilustrações a preto e encarnado, executadas por artistas maioritariamente espanhóis.
Alguns destes episódios foram gravados em forma de curtas metragens no projecto "Menos 9". Fica aqui um exemplo em vídeo e em texto.
"Começou a mexer o café com leite com a colherzinha. O líquido quase transbordava da chávena empurrado pelo movimento do utensílio de alumínio (o recepiente era vulgar, o sitio era ordinário e a colher estava arredondada pelo uso). Ouvia-se o barulho do metal contra o vidro. Tim, tim tim. E o café com leite girava, girava com uma cova no meio. E eu encontrava-me sentado mesmo à frente. O café estava à pinha. O homem continuava a mexer, a mexer, imóvel, e sorria ao olhar-me. Senti uma coisa a subir-me por mim acima. Fitei-o de tal maneira que se viu na obrigação de se explicar:
- O açucar não está derretido.
Para mo provar, bateu com a colher várias vezes no fundo do copo. Recomeçou a mexer metodicamente a beberagem, com uma energia redobrada. Voltas e mais voltas, sem parar, eternamente. Voltas e mais voltas. E continuava a olhar para mim sorrindo. Então puxei da pistola e disparei."