quinta-feira, 7 de março de 2013

a-ver-outros-livros no Metro: Aquilino Ribeiro

É à mesa que Aquilino Ribeiro nos espera nas paredes da estação de Metropolitano do Aeroporto, em Lisboa, sentado, pensativo, parado no tempo pelo traço do cartoonista António, autor da mais de meia centena de retratos que o espaço comporta. É à mesa que fica, como que escrevendo ainda.

 Aquilino Gomes Ribeiro (Carregal, 13 setembro 1885 - Lisboa, 27 maio 1963), que a família queria sacerdote, fez-se escritor. E prolífico. Mas mais do que isso fez-se homem. Foi preso como anarquista, andou pela clandestinidade do início do século, fundou a Sociedade Portuguesa de Escritores, chegou a ser proposto para o Nobel da Literatura. No ano da sua morte andava a ser homenageado em várias cidades do país pelos 50 anos de vida literária. Quando sai a notícia da sua morte, nessa mesma hora, a Censura comunicava aos jornais não ser mais permitido falar das homenagens que lhe estavam a ser prestadas.

Dele, acima de tudo, li contos. Vários. Não entendo por que não os encontro hoje nas estantes cá de casa. Volumes envelhecidos, cujas páginas virava com cuidados, ficaram decerto algures por aí. Agora que penso nisso, ocorre-me que nunca li "A Grande Casa de Romarigães" (1957), um dos seus livros mais recordados. Uma curiosidade: a casa retratada no livro foi morada do ex-Presidente Bernardino Machado e do próprio Aquilino, que se tornaria seu genro.

"O Romance da Raposa", no entanto, é o livro que atravessou gerações, a história da vida da raposa Salta-Pocinhas. Começa assim:
"Havia três dias e três noites que a Salta-Pocinhas - raposeta matreira, fagueira, lambisqueira - corria os bosques, farejando, batendo mato, sem conseguir deitar a unha a outra caça além de uns míseros gafanhotos, nem atinar com abrigo em que pudesse dormir um sonhinho descansado. Desesperada de tão pouca sorte, vinham-lhe tentações de tornar para casa dos pais, onde, embora subterrânea, a cama era mais quente e segura que em castelo de rei, e onde nunca faltava galinha, quando não fosse fresca, de conserva, ou então coelho bravo, acabado de degolar."

Talvez a recordem na versão televisiva. "O Romance da Raposa", publicado em 1959, foi adaptado em 82 para uma série de televisão, de 13 episódios de 13 minutos cada. Produzida pela RTP, Topefilme e Telecine, tem a particularidade de ter diálogos e letras das canções escritos pela igualmente grande Maria Alberta Menéres. Querem recordar? Aproveitem este clipe e partam daí à redescoberta dos restantes episódios. Boa viagem!





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