sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

António Pinho Vargas vence prémio José Afonso - conheçam alguns dos seus livros

"O compositor e pianista António Pinho Vargas congratulou-se com o prémio José Afonso, com que foi distinguido na quinta-feira, sobretudo pelo significado «afectivo», tendo em conta o que representa e representou aquele cantor, escreve a agência Lusa.

«Em Portugal não há muitos prémios no campo musical, e quando há prémios gerais é raro irem parar a músicos, por isso eu fico muito contente, porque qualquer prémio é um acto de apreço, de reconhecimento e de generosidade por parte de quem o dá», afirmou António Pinho Vargas em declarações à Lusa.

«Tem um certo significado para mim do ponto de vista afectivo, face ao que ele representa ainda hoje e ao que representou no passado», disse.

Para António Pinho Vargas, José Afonso era «um homem atento ao mundo», algo que o compositor também tenta ser.

«O mundo mudou e, se calhar, se [José Afonso] não tivesse morrido tão cedo, as posições dele também teriam mudado. Mas a memória que nós guardamos dele é suficientemente bonita, da música, das letras, do papel que teve do ponto de vista simbólico na luta contra o antigo regime anti-democrático. É-me muito grato ter um prémio que se chama José Afonso», afirmou."

Conheçam alguns dos livros do compositor e músico:

Música e Poder
Para uma Sociologia da Ausência da Música Portuguesa no Contexto Europeu
Edições Almedina, 2011.


"Portugal foi excluído das concepções hegemónicas da modernidade elaboradas nos países do centro da Europa (Inglaterra, França, Alemanha). Daqui derivam todas as repetidas introduções de práticas artísticas modernas em Portugal. Só se introduz aquilo que, originalmente, está no exterior. As narrativas da generalidade das artes em Portugal são muito semelhantes às narrativas que especificamente tratam a música portuguesa na medida em que, em cada um dos momentos fundadores de modernidade em Portugal, se referem sempre a um exterior no qual a modernidade "estava", do qual a modernidade "vem" - e esse exterior é a Europa, a tal Europa hiper-real.

Para Portugal a Europa é um "Outro" (p. 94).

Esta investigação aponta para dois factores decisivos na produção de uma imagem de ausência da música portuguesa erudita, tanto histórica como actual, na vida musical europeia. O primeiro resulta da formação do cânone musical no século XIX, da sua crescente supremacia durante o século XX e dos dispositivos de poder localizados nos países centrais que regulam e, por isso, excluem, em grande escala, os diversos produtos culturais provenientes das periferias europeias de acordo com os seus interesses e com as suas visões do mundo. Estas exclusões podem assumir as formas discursivas de considerações estéticas ou juízos de valor, proferidas a partir dos locais de enunciação onde se localizam os centros dos cânones, histórico ou contemporâneo, mas resultam principalmente de um grande desinteresse e desconhecimento e por isso, a maior parte das vezes, estas exclusões traduzem-se pelo silêncio.

O segundo factor resulta da incapacidade de instalar uma política ou uma prática de trocas culturais em condições de igualdade por parte dos agentes e responsáveis culturais portugueses que, no essencial, aceitam os mesmos valores, vistos como universais, e actuam em função dos mecanismos de poder que declaram a subalternidade, contribuindo desse modo para a própria inexistência simbólica no interior do país."

Sobre Música
Ensaios, Textos e Entrevistas
Edições Afrontamento, 2002


"António Pinho Vargas nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1951. Licenciou-se em História e mais tarde diplomou-se em Composição no Conservatório de Roterdão. Actualmente é professor na Escola Superior de Música de Lisboa.
Ligado ao jazz durante vários anos, gravou dezenas de composições originais que tocou em muitos países da Europa e Estados Unidos. Compõe também música para teatro, dança e cinema.

António Pinho Vargas tem-se dedicado principalmente à composição, ocupando lugar de relevo no actual panorama português.
O corpo principal deste livro é constituído por sete ensaios inéditos. Inclui ainda um conjunto vasto de entrevistas, de 1983 a 2001 e cinco textos escritos pelo autor para notas de programas e discos.

Este livro é uma viagem através do universo criativo de um dos compositores de referência no panorama musical português."

De referir que "Cinco Conferências: Especulações críticas sobre a História da Música do século XX", da Culturgest (2008), se encontra esgotado.

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