A literatura portuguesa está mais pobre. António Manuel Couto Viana deixa para trás anos dedicados às letras, num país que tarda a reconhecer os seus talentos. Foi poeta, contista, ensaísta, actor, dramaturgo, encenador e figurinista. E, sem dúvida, um dos poetas que mais gostei de ler nos últimos tempos.
Deixo um poema, em nossa (sua) homenagem.
A poesia está comigo
Queres cantar fados, ler sinas
Por ruas tortas, escusas?
Ou tens pretensões mais finas?
- Não me esperem nas esquinas:
Não marco encontros a musas.
Cantem outros a desgraça
Em quadras fáceis, banais,
Cheias de mofo e de traça:
Soluços de fim de raça,
Com vinho, amor, ódios, ais.
E dos parques silenciosos
De estátuas, buxo e luar,
Cresçam sonetos cheirosos,
Requintados, vaporosos
Qual uma renda de altar.
Para mim basta o que tenho:
Umas rimas sem valia,
Mas próprias, do meu amanho;
Minha colheita, meu ganho
- Poesia! Poesia!
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