terça-feira, 20 de setembro de 2016

Ai, se sêsse!


O poeta Zé da Luz nasceu em Itabaiana, em 1904. Foi alfaiate de profissão e poeta de maldição, ou benção, ou as duas coisas simultanemente porque num existe maldição que não seja também invocação de um santo, benção de língua profética.

Poeta popular, publicava seus escritos em folhetos de cordel.

Zé, ao escrever sobre o amor em 'ai, se sêsse', mais do que transgredir deliberadamente a língua portuguesa formal, tornou re-significá-la em sua musicalidade.

O sotaque nordestino reforça a visão magnífica do amante apaixonado, empunhador de peixeira (sua faca de ofício), que fura o estômago do céu para deixar correr as estrelas e as virgens que lá viviam...

Morreu no Rio de Janeiro, em 1965, desconhecido para muitos, felizmente não para nós.

Eu deixo aqui esse pedaço de Brasil, com meu abraço de sempre para os irmãos leitores daí de Portugal. Porque ler é imprescindível. Porque ler é do borogodó.

Penélope Martins.

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Se um dia nós se gostasse; 
Se um dia nós se queresse; 
Se nós dos se impariásse, 
Se juntinho nós dois vivesse! 
Se juntinho nós dois morasse 
Se juntinho nós dois drumisse; 
Se juntinho nós dois morresse! 
Se pro céu nós assubisse? 
Mas porém, se acontecesse 
qui São Pêdo não abrisse 
as portas do céu e fosse, 
te dizê quarqué toulíce? 
E se eu me arriminasse 
e tu cum insistisse, 
prá qui eu me arrezorvesse 
e a minha faca puxasse, 
e o buxo do céu furasse?... 
Tarvez qui nós dois ficasse 
tarvez qui nós dois caísse 
e o céu furado arriasse 
e as virge tôdas fugisse!!! 

- Zé da Luz - 


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