10 de Agosto de 2014
Na casa está pouca gente, a maioria da comitiva levantou-se a horas decentes e partiu para o centro. Eu não aguentaria a pedalada e o calor. Olho para o pão e ataco, bebo litradas de água para repor a energia e espreito à janela.
Hoje é dia de fazer alguns contactos, pôr os olhos na internet e lançar uma ou outra foto. A noite de ontem foi memorável, foi saltar até não poder mais. E depois foi o esticão de vários quilómetros pela praia fora. Parece que ainda sinto as pernas a latejar.
Cai a noite num ápice e o fim de tarde traz a magia do Brasil à praia. Olho pela janela da sala e avisto uma procissão. Mas não é como em Portugal, não vejo centenas de pessoas atrás de uma ou mais imagens de santo. Aqui a festa parece ser outra e vai um camião com uma banda no cimo. Alinham-se as vozes e grita-se bem alto os desígnios da fé. Qualquer ser menos informado podia ser levado a crer que se trata de um Carnaval assim mais leve. Mas não é, isto é mesmo uma procissão.
O melhor é vermos o vídeo.
Arranjo-me e aguardo o grupo, vamos para um dos sítios mágicos do meu imaginário - a Garota de Ipanema. O bar fica numa esquina, aberto para a rua. O cheiro intenso de picanha invade os narizes. As caipirinhas e os chopes rolam à frente dos nossos olhos. As paredes revestem-se de fotografias dos mestres - Vinícius e Tom - e a letra da canção está em toda a parte. Cantarola-se um pouco e imagina-se os mestres compondo e bebendo mais um whisky, naquelas tardes sem fim do Rio de Janeiro.
Saímos rumo ao Hotel Pestana, em plena linha de praia. O edifício alto tem um bar no topo. A noite fresca convida a pôr a camisola - por vezes esquecemo-nos que Agosto é pleno inverno. A conversa anima com o testemunho de portugueses que vivem no Rio. Nem tudo são rosas, nem tudo é mau. Podemos ter o melhor e o pior dos mundos, mas assim é este país. Sobrevive uma alegria imensa, uma festa constante e um povo de sorriso e alegria fáceis. E isso contagia qualquer um.
Parto para dormir, hoje recolho cedo. Antes de me deitar dou por mim a assobiar a música. Podia estar com os mestres a cantar dias sem fim, sem promessas de um futuro, levado apenas pela corrente dos amigos e dos dias belos.
Rodrigo Ferrão
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