sábado, 18 de julho de 2015

Tenho vivido em contramão

Nos últimos tempos a minha melhor companhia neste desventurado sítio tem sido a imaginação que, por qualquer acaso desconhecido, consigo desenvolver
Pois é, não me tenho dado muito com pessoas. Volta e meia combino um café com um amigo ou vou a casa dos meus avós a fim de sair de lá com um saco cheio de bolos ou então consigo convencer a minha mãe a deixar-me levar o carro o que à primeira vista se afigura bastante giro mas vai daí e ela sentada no banco do pendura gritando-me que não ande em contramão e que me afaste do passeio que ainda rebento algum pneu e que não atropele nenhuma velhota porque depois era uma grande chatice em termos de seguros e essas coisas todas de que eu não tenho a menor ideia de como funcionam
De maneiras que como não é só na estrada que ando em contramão mas sim no geral da minha vida me vou refugiando nos Universos que todos os dias me nascem dentro da cabeça. Uns mais bonitos outros nem tanto, uns mais engraçados outros mais tristes, mas qualquer um deles mais proveitoso do que este em que insistem que exista fisicamente. Às vezes família e amigos mais chegados estranham quando dão por mim conversando com um elefante de peluche muito grande ou então equipando-me todo à astronauta a fim de visitar o Sol (isto de querer visitar o Sol é o que eles dizem que eu digo, não sei se lhes acredite muito nas palavras) mas a única coisa que acontece é eu estatelar-me no meio do chão do quintal porque afinal a capa de Super-homem que me ofereceram em tempos num aniversário não tem qualquer tipo de serventia. Bom como estava a dizer estranham destas minhas práticas aparentemente desajustadas e logo me colocam a mão nos ombros afagando-me o pelo (sim o pelo pois eu sou um urso polar muito forte meus amigos, cuidado comigo) e me perguntam se ando metido nos estupefacientes ou então começam com conversas aparentemente muito inocentes mas que têm o único fim de me encaminharem para um centro de tratamento de alcoólicos reincidentes que tem sede nos subúrbios de Lisboa
Como podem ver ando para aqui a saltar de nuvem em nuvem com o fim de resolver os tormentos que me vão acontecendo e vá lá que me sobra tempo infinito para desenvolver vários tipos de imaginação que acabam por resultar em outros tantos céus tão bonitos e em conjuntos de silêncios demasiado perfeitos e tudo isto, em mistura com a devida dose de sorte que infelizmente anda perdida, faz nascer um espetro longuíssimo em que felicidades de diferente índole se ordenam por ordem de chegada e me fazem não querer regressar à vida mundana

Gonçalo Naves

Foto tirada daqui: http://www.jardimdomundo.com/onde-vivem-os-monstros-2010/

2 comentários:

  1. Olá Gonçalo!!!
    Também tenho tido muitos dias em que ando em contramão. O que vale é que acredito que às vezes é preciso andar contra a corrente para encontrar um caminho mais certo para nós.
    Beijinhos

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  2. Este "miúdo" tão graúdo vai longe. Ainda hei de comprar livros dele. Parabéns por todos os textos publicados.

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