sábado, 25 de julho de 2015

Sharish


Onde nada se faz com pressa

os dias são de sol e sopa de tomate,

(que cozinhar também é arte!),

as searas ondulam entre o verde e o amarelo,

as sombras são feitas do verde escuro de azinheiras e oliveiras,

e as sestas, ou os sonhos, de cardos, papoilas, esteva, trigo e pouco joio.

Onde nada se faz com pressa

há canto de pássaros a acordar as manhãs de madrugada,

sinfonias crepusculares de cigarras,

e na boca dos homens um cante arcaico

em lento andamento a embalar a lavoura dos dias,

o pastoreio do ócio.

Onde nada se faz com pressa

faz-se um gin sem Adão nem Eva mas pecado puro,

um gin com a presença singular de uma singular maçã,

Bravo-de-Esmolfe a macerar com zimbro,

sementes de coentros, citrinos, lúcia-lima,

quase a dançar depois da alegria da espera no lento destilar.

Onde nada se faz com pressa

ou simplesmente no Alentejo.


Raquel Serejo Martins


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