domingo, 19 de julho de 2015

Opihr Oriental Spiced


Bagas de cubeba de Malaca,
pimenta preta de Kerala,
cominhos da península arábica,
zimbro veneziano,
coentros frescos de Marrocos,
mais cedro, sândalo, canela,
esmeraldas verdes de espanto,
um elefante para fazer sonhar
e um casal de pavões pelas plumas de encantar.
Uma babel de cores e de cheiros,
um mapa-múndi dentro do porão
e a empreitada do regresso a casa.
Um dia ainda vão fazer disto uma canção!
A história de um capitão,
obstinado como um caranguejo,
só por isto já merece um beijo,
e da sua tripulação,
marinheiros velhos, velhos mercadores,
lobos do mar aposentados sem amores,
que nas noites de frio e chuva,
não dispensam na genebra
memórias do sol das viagens,
enquanto dentro do peito tatuado,
o coração em ebulição
e como se cada sorvo um som,
ouvem o vento nas velas,
ouvem gritos de gaivotas,
palmas de palmeiras,
palavras estranhas estrangeiras,
melodias de cítaras e guitarras,
orações a deuses desconhecidos,
suspiros de prazer de mulheres,
mãos em despedida no cais,
e a sentir no peito aquele sufoco
a que os portugueses chamam saudade,
ou será apenas a idade,
à la recherche du temps perdu,
enchem o copo de gin,
com muito gelo e sem mais.


Raquel Serejo Martins



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