sexta-feira, 31 de julho de 2015

Fora de mim nada alcanço, dentro de mim nada me basta

Todos os dias me tenho reencontrado, isto como se estivesse andado perdido, perdido dentro do mundo, e a cada hora melhor entendo os diálogos que, mesmo em silêncio, tenho travado comigo mesmo. O problema é que para me aproximar do que sou tenho-me distanciado dos outros. Os outros são, no fundo, aquilo que não faço mas que tanto quero fazer

Cada vez de mais longe os vejo, estão tão distantes do que são mas cada vez mais próximos uns dos outros e por esse motivo vejo-me revestido por uma fina camada de inveja por não haver modo de me conseguir aproximar dessa proeza. Talvez se reencontrem uns aos outros, talvez assim lhes baste a existência porque talvez de outra forma não valha a pena existir. Vejo-os como poetas uns dos outros, escrevem-se e são escritos, partilham-se em cada momento e afinal de contas constroem-se sobre sorrisos e verdades que nada de autoritário têm, e assim são tão felizes

E eu que não tenho passado de um rapazito ignorante e de prosas cada vez mais pobres, limito-me a sobreviver dentro de um rochedo com escasso de céu onde não há meio de conseguir passar para o lado de fora. A verdade é que cada vez melhor conheço esse rochedo, já me é quase de leitura óbvia, já poucos segredos me guarda e por isso a minha vida não passa de uma obra prima de desassossegos de onde nada erra nem onde nada consegue, infelizmente, entrar

Fora de mim nada alcanço, dentro de mim nada me basta

A vida tem-me mostrado diversos lugares. A princípio entusiasmo-me com a aparência que apresentam mas afinal não mais são que uma dimensão utópica porque mal me vejo consciente do que sou concluo que não passam de uma sequência de passados que nunca chegaram e de futuros quase invisíveis

Estou condenado a existir desta malfadada forma, reencontrando-me todos os dias com aquilo que sou mas afastando-me todas as horas daquilo que nunca consegui ser

Gonçalo Naves

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