Magellan
entro no bar
e observo as vidas que se arrastam pela tristeza.
nas mesas
jazem copos - objectos nada preocupados com as perspectivas das coisas (nessa
equação tão simples, redutora e singular... do meio cheio, do meio vazio).
aproximo-me
de uma mulher que fuma um longo e fino cigarro.
peço-lhe
isqueiro e aceno ao rapaz
- dá-me um
gin, rosno.
ele olha
para mim,
ele olha
para a moça,
ele olha
para as garrafas,
ele escolhe
o que quer.
começa o
ritual de dança à volta do copo cheio de gelo.
fala-me de
viagens e grandes navegadores,
nas rotas de
especiarias,
de enormes
barcos carregados de cravinho,
mares sem
fim
e diferentes
cores nos céus distantes.
dou o
primeiro travo e sinto o gelo. a garganta seca (como o deserto) parece ter o
descanso merecido. sinto no estômago o conforto do frio e percorre-me um
calafrio na espinha.
de repente,
sinto que não estou naquele espaço, convoco as memórias do mar da minha
infância, deixo cair uma lágrima na palma da mão e limpo o nariz nas mangas da
camisa.
tiro um
valium do bolso e atiro para o copo.
despeço-me
do meu engate falhado,
despeço-me
de mim próprio com um abraço apertado
e bebo num
trago o que me resta.
que a noite
seja o amparo merecido
da filha da
puta de vida que levo.
Sem comentários:
Enviar um comentário