sexta-feira, 10 de abril de 2015

Notas soltas no livro de Inês Pedrosa, «Desamparo»

«O inevitável declínio das relações amorosas é uma das bases conceptuais do mundo contemporâneo. Tem gente que dedica a vida a estudar a duração da atracção física e a curva de crescimento do tédio conjugal. Parece que isso é tão científico como a composição da atmosfera e a elaboração das anestesias.»

«- Meu filho, você ainda não encontrou a sua mulher?
Rio-me, respondendo que não, que não quero saber de mulher, que, como diz a outra na televisão, «isso agora não interessa nada». Sorri, abana a cabeça, fala que não é verdade, que o amor é a matéria fundamental da vida.
- O resto sempre acaba se resolvendo. A vida é muito curta para dispensar o amor. É isso que nos dá força para aguentar tudo o que é feio e não presta, acredite na sua mãe.»


«Morremos sempre sozinhos. Mesmo de mão dada com a pessoa que mais amamos, os nossos dedos tornam-se de repente objectos em arrefecimento progressivo, deixamos de estar ali.»

«A beleza, conjugada com a solidão, arrasa. Porque a beleza é a representação estética da verdade, matéria demasiado intensa para quem está fisicamente só depois de ter renascido através do amor.»

*In Desamparo, Inês Pedrosa
Dom Quixote

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