segunda-feira, 6 de abril de 2015

In Desamparo

«Quando comecei a trabalhar em jornais, na década de oitenta do século passado, os dedos tremiam-me sobre as teclas rijas das máquinas de escrever, temendo ser incapaz de atingir a verdade através da escrita, por falta de experiência. Fui aprendendo à minha custa, e à custa de contemplar aqueles para os quais a verdade e a mentira são pares intermutáveis nas danças de salão, que a capacidade de voar através da noite da dor importa bem mais do que a experiência. É esse o meu método de aproximação à verdade; um método incauto e muitas vezes trôpego, um método que me expõe e me esfola a pele da alma; mas antes esfolar-me por me atrever a voar do que por existir ajoelhada diante da estatuária do medo.»

*in Desamparo, Inês Pedrosa
Dom Quixote

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