segunda-feira, 13 de abril de 2015

Günter Grass deixou-nos

Informa o Público, em notícia de Cláudia Lima Carvalho


O escritor alemão Günter Grass morreu aos 87 anos, informou nesta segunda-feira a sua editora Steidl. O Prémio Nobel da Literatura morreu na cidade de Lübeck, na Alemanha.
Günter Grass, que recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1999, era considerado um porta-voz da sua geração. Defensor de causas de esquerda e que se manifestou por exemplo contra as intervenções militares no Iraque, o escritor alemão foi durante décadas considerado uma espécie de "consciência moral" da Alemanha. Em 2012 foi considerado persona non grata por Israel, depois de ter comparado a acção deste país com os regimes ditatoriais. Ficou proibido de entrar naquele estado, tendo recebido até críticas dos próprios alemães. Houve mesmo um pedido à Academia Sueca, que foi rejeitado, para que fosse retirado o Nobel da Literatura ao escritor.

Também em 2012, o escritor publicou um poema de apoio à Grécia. Chamou-lhe A Vergonha da Europa e não se conteve nas críticas à atitude da chanceler alemã Angela Merkel. O Nobel da Literatura lembrava a história da Grécia, a quem a Europa muito deve. “Tu vais definhar privada de alma sem o país que te concebeu, tu, Europa”, escreveu Günter Grass, num poema com 12 estrofes de dois versos cada.
Membro da Academia das Artes de Berlim, Günter Grass, que ganhou o reconhecimento internacional com O Tambor de Lata, publicado em 1959, recebeu, além do Nobel, distinções tão importantes como o Prémio Literário Príncipe das Astúrias, o Prémio Internacional Mondello ou a Medalha Alexander-Majakovsky.
Em 2006, o escritor contou a sua história numa polémica autobiografia, na qual confessou que se alistou nas Waffen-SS, uma unidade de elite da Alemanha nazi, quando tinha 17 anos. Descascando a Cebola aborda a vida do escritor entre 1939 e 1959 e foi publicada em Portugal pela Casa das Letras em 2007. Grass relembra aqui a sua adolescência numa Alemanha devastada pela guerra, o seu trabalho como mineiro e a decisão de fugir para Paris, em França, onde escreveu O Tambor de Lata.
Este título é o primeiro volume da chamada "Trilogia de Danzig" (os outros são O Gato e o Rato e O Cão de Hitler), em que Grass recria com ironia e humor cáustico o ambiente da sua cidade natal, Danzig (actualmente a cidade polaca de Gdansk), antes e durante a II Guerra Mundial.
Depois de Descascando a Cebola, o escritor alemão escreveu A Caixa (Casa das Letras, 2009) para continuar a falar da sua vida, agora focando-se mais no campo familiar e não no político. Günter Grass escreveu aqui sobre o período entre 1959 e 1999, ano em que lhe é atribuído o Nobel, por retratar “a face esquecida da história”. Para a Academia Sueca, Günter Grass concedeu um novo começa à literatura alemã, “depois de décadas de destruição linguística e moral”. Seguiu-se um terceiro volume, Grimms Wörter, este ainda não publicado em Portugal e que reflecte sobre todas as épocas da história alemã a partir do século XIX, acompanhando o surgimento do nazismo, a Segunda Guerra Mundial, a divisão da Alemanha e sua reunificação em 1990.
"Pareceu-me que a parte da minha biografia que não aparecia emDescascando a Cebola A Caixa, a parte relativa à minha actividade política e social, podia encontrar lugar numa história sobre os irmãos Grimm", disse na altura o escritor numa entrevista, revelando que terminava então a sua actividade literária, pelo menos em termos de romances. “Falta-me o ânimo para escrever. Acabou o meu prazo de validade. Já escrevi tudo. Na minha idade, já se começa a ficar surpreendido quando chegamos à próxima Primavera. E eu sei o tempo que um livro pode demorar a escrever.” 

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