quinta-feira, 12 de março de 2015

OLÁ BOM DIA SENHOR DOUTOR O MEU NOME É NINGUÉM


Poucos conheço que não Doutores ou Senhores Doutores. Doutores disto e do outro, daquilo e dos outros. Desses poucos não há o que não foi, ou, pouca sorte lhe auguro, o que não será. São-no uns porque nunca outra coisa souberam, memória de outro passatempo que de existir só as ganas. Outros que, cansados de ocupação menos volumosa para a fatiota, são-no através de serenata persistente. Começam o jogo a pau mandado, favores a este e àquele, ainda baixo o tom de voz. Com pressa se eleva, gordura nova a brotar na sapatilha. Desse ponto vai pulo rápido até ao título. Doutor e por isso nova cavalaria no portão (antes nem portão). Ao jantar o beluga mais caro e a refeição toda de babete. O pecado agora desconhecido e por isso não mais o padre, desaparecido o Pai Nosso e a Avé Maria, coisa essa indigna a Doutor, compreendo Senhor Doutor.
Eles assim e eu a ganhar pó desde que nasci. Não há modo de nada. A cada aniversário mais um ano e esse o único conhecimento de que disponho. Não me chateiem com matéria intelectual, não me queiram ver seja o que for. Sou exatamente o que sou e virar coisa menos monótona nunca hei-de. A cada hora menos uma até eu todo raízes e essa a única certeza. O que tenho é sobretudo tonturas. Ao Domingo o banho e antes dessa volta sem ida a varanda a mostrar-me meus conterrâneos Doutores. Eu mais meu todos os dias e o resto sem aparente coisa nenhuma. Gestos comedidos, o que hei-de ser que não corredores vazios? Não há forma de agrado alheio, posturas de ontem, sou todo ontem. Nunca tive afinal nenhum, não acarreto com conclusões.

Gonçalo Naves


Foto tirada daqui: http://www.idagospel.com/2013/03/o-entendimento-dos-humildes-supera-toda-falta-de-entendimento-dos-sabios.html

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