Para
lermos este livro precisamos de antes demais ser estudiosos e/ou no
mínimo interessados nas áreas de ciência
política, relações internacionais e sociologia, não sendo um
livro fácil é um livro muito interessante e polémico mas que na
globalidade está muito longe das criticas fáceis que lhe fizeram,
com certeza efetuadas, por quem nunca se deu ao trabalho de o ler.
Por isso irei me afastar destas e irei olhar para o livro como um produto
de uma forma de pensar, que tem como resultados algumas estranhas e
retorcidas teorias/hipóteses e outras muito interessantes e positivas.
Quem o escreve,
o já falecido professor de ciência política, Samuel
Phillips Huntington,
foi um conceituado professor de ciência política da Universidade
de Colúmbia
– no qual foi diretor do seu reputadissimo Instituto
de Estudos de Guerra e Paz
– e, a partir de 1963,
professor
da Universidade
de Harvard
acumulou estas três atividades académicas com duas outras
prestigiadas, a primeira como co-fundador e co-director até 1977, da
respeitada e influente revista – de relações internacionais e de
política interna americana – Foreign
Policy,
a segunda, a partir de 1975, como membro eleito – aliás são todos
eleitos pelos seus pares – da American
Academy of Arts and Sciences
ou seja a Academia de Letras dos E.U.A..
Desta maneira vemos que era um influente e sólido académico mas que
não era alguém neutral nem muito menos pacifico, foi consultor do
U.S.
Department of State
– o Ministério dos Negócios Estrangeiros dos E.U.A.
– e era conotado com os democratas
– nos E.U.A.
os democratas vão desde o socialismo democrático ao liberalismo
social e económico – embora fosse o que podemos dizer um democrata
conservador
nos assuntos da política externa, foi já com esta visão que
colaborou entre 1977 e 1978, com a administração de Jimmy
Carter,
onde foi o Coordenador do National
Security Council
– é um gabinete de conselheiros em várias áreas ligadas aos
negócios
estrangeiros,
serviços
secretos,
defesa,
segurança
interna e externa
que estão sob a égide do Executive
Office of the President of the United States
– para as áreas do Planeamento de Segurança. Já no final da sua
vida foi um critico feroz das administrações de George
H. W. Bush
e de Bill
Clinton,
não sem antes passar, nos anos 80, por um controverso cargo de conselheiro de
segurança do governo do apartheid
da Africa do Sul, liderado por P.W.Botha,
embora podemos dizer em sua defesa que tivesse aconselhado reformas neste
sistema e aconselhado ao gabinete governante medidas de segurança
que pudessem lidar com a mudança do sistema de apartheid,
com que então se pensava acabar e o qual não se concretizou, para outro mais inclusivo e democrático.
O
livro serve, e o autor assume-o no Prefácio, para fundamentar um
artigo que este tinha publicado no verão de 1993 – ou seja três
anos antes – na revista Foreign
Affairs
intitulado The
Clash of civilizations?.
E aqui ficamos com a grande dúvida se o livro serve para fundamentar
uma teoria já existente, qual a credibilidade cientifica do mesmo?
Bem isso não lhe retira o mérito ou o demérito das analises que
faz e da fundamentação que usa mas perpassa por todo o livro esta
teoria o que lhe retira alguma credibilidade. Para além de que
algumas fundamentações históricas são incompletas e muito
dirigidas para o objectivo final que é provar que existe
um choque de civilizações
e que tal irá
influenciar o futuro da ordem mundial.
Mas
vejamos o livro foi escrito em 1996 e de entre toda a especulação
que tem um livro com essa data, existem quase 19 anos depois, um
conjunto de analises que se tornaram certeiras, irei referir três
que me parecem as mais certeiras: primeiro sobre uma provável guerra na Ucrânia que oporia a Rússia
– estado-núcleo
da chamada por este civilização Ortodoxa
– e a civilização Ocidental;
segundo o papel dos chamados países
dilacerados
acertando não só na evolução negativa da Rússia,
como da provável islamização da Turquia,
como e por fim da aproximação e reforços dos laços entre os
E.U.A.
e o México;
em terceiro lugar acerta completamente na
ameaça
islâmica –
e no choque que esta civilização faz com todas as outras – que
então tinha apenas esboçado algumas pequenas e tímidas ameaças.
Mas erra em muitas outras análises e apercebo-me que se este não
tentasse forçar tanto a sua teoria do tal choque
de civilizações
talvez
as suas analises fossem bem mais certeiras!!!
No
final vemos que o autor não defende que este choque seja algo de
inevitável, aliás o seu ultimo capitulo, intitulado A
civilização como um bem comum,
defende apenas que uma ordem internacional assente em civilizações será a mais segura
salvaguarda contra uma guerra mundial e até dá alguns exemplos de
como poderemos superar as diferenças entre estas e quais os valores
que todas estas comungam. Por isso e até pode ser, que todo o seu
livro seja um exercício um bocado forçado num determinado sentido,
mas está longe de ser um incendiário irresponsável que muitos dos
seus críticos que leram o seu livro lhe atribuem de forma, essa sim,
irresponsável e incendiária.
Como
a próxima semana é a primeira 2.ª feira de Março, e
analiso/critico livros de romance, poesia, viagens e best sellers,
escolhi analisar um livro de viagens, o que escolhi foi O Vento dos Outros
de Raquel Ochoa.
Saudações a todos os leitores e boas leituras,
.'.Sandro Figueiredo Pires.'.
Gostei muito da sua análise, imparcialidade acima de tudo.Tenho já o livro, faz parte da minha próxima leitura.
ResponderEliminarCumprimentos, Manuel Fernandes