Começo
esta critica com uma pergunta, que o autor põe nas suas palavras
finais: Poderá um maçon falar
objetiva e desapaixonadamente da Maçonaria?
Julgo e ao contrário da conclusão a que este chegou, de
que o conseguiu, que
dificilmente o conseguirei, mas irei tentar. Este pequeno grande
livro com pouco mais do que 150 páginas, que já vai na 7.ª Edição
– aliás a ultima edição, a 7.ª, é de Setembro de 2012 – é
um verdadeiro best-seller
e tudo por causa de um livro que tem apenas um objetivo muito
simples, como aliás resume o autor e muito bem numa simples frase:
uma simples introdução ao
conhecimento da Maçonaria.
Não
pretende por isso ser desmistificador de nada, apenas introduzir o
tema de uma maneira desapaixonada e simples, é óbvio que o livro
tem algumas lacunas e nas edições mais antigas – as duas
primeiras – estas eram gritantes, sendo que a partir da 3.ª Edição
– que foi editada em 2001 – as mesmas esbatem-se, embora
subsistam algumas que vos darei conta no decurso desta critica, mas
só nota quem realmente é conhecedor profundo destes assuntos, assim
e de forma global esta introdução ao tema complexo Maçonaria
é muito bem conseguida.
O
autor, António Arnault,
past– ou seja antigo –Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano – v.
GOL – de longe a obediência
– ver o que é na pág. 61/62 da 7.ª Edição – maior e
exclusivamente Portuguesa é um advogado, autor (com mais de 30 obras
publicadas) e político português (oposicionista à ditadura,
fundador da ASP e posteriormente do PS, em 1973, deputado
constituinte e da Assembleia da Republica, seu Vice-Presidente e
Ministro por este partido) a quem é atribuído – e diga-se com
toda a justiça – o titulo de pai
do Serviço Nacional de Saúde (SNS), pois foi o seu principal
impulsionador após a publicação, em 1978, de uma obra publicada em
co-autoria com Mário Mendes
e Miller Guerra
intitulada: Serviço Nacional
de Saúde: uma aposta no futuro.
Este levou estas ideias à prática enquanto Ministro dos Assuntos
Sociais do II Governo Constitucional, sendo uma das grandes
conquistas reformistas de centro-esquerda do pós 25 de Abril e que
ao contrário do que hoje gostam muito de se apropriar, nada tem de
marxista mas muito de social-democrata nórdica e de
trabalhista britânica, aliás dois dos sistemas onde se inspirou.
Resumindo
a estrutura da obra, esta começa por fazer uma breve introdução
aos princípios gerais e valores fundamentais que enformam a
Maçonaria, passando para uma síntese histórica introdutória mais
geral, na globalidade razoavelmente conseguida, posteriormente aborda
também sinteticamente alguns temas mais complicados para um outsider
e/ou profano –
e já expliquei o significado do que é AQUI – entender,
acrescentando alguns apenas a partir da 3.ª Edição, como o Segredo
Maçónico. O resumo histórico
sobre a Maçonaria em Portugal é o capitulo seguinte e aqui tenho a
apontar um reparo, o autor, ignora claramente a Federação Portuguesa da Ordem Maçónica Mista Internacional Le Droit Humain – O Direito Humano inserindo-a, não
sei porque diabo e com uma frase que nem a este lembraria,
no capitulo da Maçonaria
Feminina e com uma indicação
claramente descontextualizada, não fosse esta minha
Obediência a terceira maior de cariz liberal
e adogmática do nosso país,
e uma das maiores do mundo em número de membros e com certeza a
maior Ordem mista e a mais internacional (estando atualmente em mais
de 50 países com 22 Federações), facto que não corrigiu em
todas as edições posteriores apesar de e desde 2008 haver um
tratado entre esta Federação e o GOL, podendo este erro e caso este o
quisesse ter sido corrigido na 6.ª e 7.ª edições. No capitulo
seguinte aborda os chamados temas quentes, ou seja, a Carbonária,
a Opus Dei
e as relações com a Igreja
Católica, remata a parte
principal, antes das Palavras
finais, com dois capítulos
muito interessantes que veio corrigindo e aprimorando ao longo destas
sete edições intitulados de Héptálogos.
Na
chamada área de Documentos, temos documentos históricos, uma lista
de Maçons ilustres estrangeiros e portugueses, os Grão-mestres e
Grã-mestres das Obediências portuguesas – e mais uma vez ignora primeiro a Jurisdição e posteriormente a Federação Portuguesa do Direito Humano – e uma Bibliografia,
mais ou menos completa, na qual por provável desconhecimento, não
pôs livros tão interessantes como: A verdadeira história da Maçonaria
de Jorge Blaschke e Santiago Río, 2006, Editora Quidnovi; Os Franco-Mações,
2003 de mais de 20 autores – de entre eles Pierre Simon, Jean
Verdun, Jean-Robert Ragache e Alexandre de Jugoslávia antigos dignitários de obediências
francesas – Editora Pergaminho;
Dicionário dos Símbolos
de Jean Chevalier e Alain Gbeerbrant, Editorial Teorema. Nos
Documentos
destaco dois, não só pelo seu interesse como pela sua importância
histórica: o primeiro é a Explicação
da Maçonaria aos recém-recebidos que é
um discurso proferido pelo Orador da Loja Lisboa, Padre D. André
de Morais Sarmento
– sim era um Padre – em 1790 ou 1791, que é apenas e só o mais
antigo texto maçónico português conhecido – e continua com
bastante atualidade – e que chegou aos nossos dias por estar
integrado num processo da Inquisição; o segundo é o artigo de
Fernando Pessoa
– que refere textualmente não
sou maçon, nem pertenço a qualquer outra Ordem (...)
não sou, porém,
antimaçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma ideia
absolutamente favorável
– no Diário de
Lisboa,
datado de 4 de fevereiro de 1935, em que este defendendo os maçons e
a Maçonaria
protesta contra o projeto de lei que proíbe
as sociedades secretas
e que foi aprovado pela Assembleia Nacional do Estado Novo nesse
mesmo ano, neste artigo o poeta desmistifica algumas das propaladas
mentiras e muitas das mistificações sobre a Maçonaria.
Em
conclusão, mesmo com lacunas mas um maçon tem a tarefa,
sempre inacabada, de afeiçoar a pedra bruta e de «construir o
templo interior»,
é de todos os melhor livro para quem quer conhecer o que é a
Maçonaria
e caso esteja interessado em aderir a esta em esclarecer eventuais
dúvidas. Como a próxima segunda-feira é a terceira do mês de
Fevereiro e eu nesta analiso/critico livros sobre história
& romance histórico resolvi escolher-vos um livro muito
interessante que é um misto de romance e de história real intitulado O Último Cabalista de Lisboa
escrito por um autor descendente de Judeos
portugueses
e luso-americano, Richard Zimler.
Saudações
a todos os leitores e boas leituras,
.'.Sandro
Figueiredo Pires.'.
Post-scriptum: Apenas público a crónica hoje e não na 2.ª Feira, como
seria de esperar, mas a 7.ª Edição que encomendei no inicio da
semana que passou só me chegou semana e meia depois,
embora tendo a 6.ª Edição de maio de 2009, seria injusto não verificar se os reparos que faço se mantinham – e infelizmente mantêm-se –
na ultima reedição desta obra de 2012.
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