segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Terra-Pátria

Quando fazemos a critica a um livro é absurdo tentarmos reproduzir e ou citar ideias dos autores, deixo isso para os autores e os leitores do mesmo. Cabe-me a mim como critico contextualizar e explicar o que é na generalidade e como apareceu a obra. Os autores Edgar Morin e Anne Brigitte Kern são dois sociólogos, o primeiro para além de sociólogo é filosofo e antropólogo, formado em Direito, História e Geografia e tem, no meu entender, neste livro o ponto alto do seu pensamento político. 

Antes sequer de passar às considerações profundas que este livro nos aponta temos que o contextualizar, escrito em 1993, logo após o colapso da União Soviética, em plena guerra civil Jugoslava e antes da universalização da internet e da chamada guerra ao terrorismo islamita e de todos os contra ataques que este efetuou, embora nessa altura já se tivesse anunciado O Fim da História por Francis Fukuyama (escrito em 1989) a parte dois deste pensador intitulada O Fim da História e o ultimo homem em que este argumenta que a Democracia Liberal é o ponto final da evolução histórica e política humana tinha acabado de sair. Terra-Pátria é deste modo um livro pré Era Métatecnica (identificada no livro com a revolução que tanto a internet como a cybernética iriam provocar no homem e na humanidade) mas após o colapso de um dos últimos sistemas de ditadura ideológica, o império socialista cientifico, a subsistir neste Planeta
 
Edgar Morin e Anne Brigitte Kern têm uma ideia principal que perpassa em todo o livro que é que o investimento no repensar político precisa de uma verdadeira re-fundação, a qual exige a reforma de pensamento e com este pressuposto detalham de forma interessante e resumida como se chegou onde estamos, na atual Era Planetária e o ponto de partida em que se encontravam, em 1993, numa síntese que denominam de: Agonia Planetária. Neste capítulo analisam os meta-problemas que o Homem e a Humanidade tinha para referirem quais as finalidades terrestres que estes podem alcançar, enfatizando a necessidade de uma reforma do pensamento capaz de conceber as coisas no seu contexto e definirem a comunidade de destino terrestre ao proporem-se assumir a Terra enquanto morada e, como uma sociedade-mundo, na qual os problemas globais ou supranacionais venham à frente das disputas de poder entre as nações, definindo deste modo não sem antes enquadrarem num capitulo anterior quais os pontos de identidade terrena que podem levar ao mesmo – o conceito de Terra-Pátria. A parte mais importante do livro, não fica ao que parece no final mas a meio do mesmo, pois ao falarem destas finalidades tentam enquadrar nestas o que de facto interessa, mas... 

E há sempre um mas, o problema é o confronto com a realidade e como é que se pode construir e/ou levar avante as realidades que o Homem e a Humanidade se podem propor a prosseguir de modo a que se atinja uma finalidade comum que culmine numa comunidade destino chamada de Terra-Pátria e lutar contra o impossível realismo e é aqui que aparece o conceito da Antropolítica como enquadramento para a construção de uma Utopia Realista (aliás existe um livro interessante intitulado Para uma Utopia Realista sobre os Encontros de Châteauvallon que se realizam precisamente à volta de Edgar Morin) desconstruindo o real e explicando as diferentes intensidades deste quer no tempo, quer nos valores, quer na política, quer e por fim na construção de uma utopia viável e realista.

A parte final é o ápice que me abstenho de explicar, pois retiraria a graça toda a quem pretende ler o livro. As perguntas que ficam são: Será que os autores conseguem ultrapassar o confronto com a realidade? E se o fazem a utopia que propõem é ampla e/ou limitada?

Quando os livros são desafiantes é o que me apetece deixar, o gosto para que leiam os mesmos e tirem por vós mesmos as conclusões que mais ninguém pode tirar. Como a próxima semana é a primeira 2.ª feira de Fevereiro, e analiso/critico livros de romance, poesia, viagens & best sellers, o livro que escolhi foi Il pendolo di Foucault e/ou O Pêndulo de Foucault de Umberto Eco, um romance e best seller que este publicou em 1988.

Saudações a todos os leitores e boas leituras,

.'.Sandro Figueiredo Pires.'.

1 comentário:

  1. Thanks for the article! Interesting!
    Reading books is a reflection ... The choice of books - the most important thing!
    "Teaching without thinking is useless, but without meditation exercises dangerous. "Confucius

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