Lembro-me, lembro-me da primeira vez que reparei em
ti. Foste ao quadro resolver aquele exercício que mais ninguém conseguia e
todos olhámos para ti não podia ser verdade não podias conseguir.
Lembro-me quando fomos almoçar juntos. Falavas pouco
mas não precisava que falasses porque bastava-me olhar-te. Bebeste água porque
sumos fazem mal à saúde, disseste.
Lembro-me de ficares no alpendre depois do jantar.
Ficavas lá a sentir a noite e eu cá dentro com a lareira acesa esperava que viesses mas
tu nunca vinhas porque entre mim e a noite preferias a noite.
Lembro-me de chegares a casa depois do trabalho e
deixares a mala cair no chão. Atiravas-te para o sofá como uma criança e rias
rias muito.
Lembro-me de notar que havia alguma coisa genial em
ti. Talvez fosse o cabelo ou a pele não sei. Ou os abraços e a cintura ainda
hoje não tenho a certeza não posso ter.
Lembro-me de te ver estudar. Sempre foste mais
trabalhadora sempre trabalhaste mais que as outras e por isso é que te escolhi eras sensual com óculos.
Lembro-me de achar que tinhas o sorriso grande demais.
Abrias muito a boca e às vezes achava feio mas tu não te importavas e ainda a abrias mais para me provocares e rias rias muito ríamos muito.
Lembro-me de todos os dias me lembrar da promessa que
nunca te fiz. Tu pediste mas eu não fui capaz porque achava que promessas eram
desnecessárias e que vivias bem sem elas tal como eu sempre vivi.
Não me lembro da última vez que te vi. Foste e levaste
a minha memória levaste-a contigo. Já nem nome tenho porque o roubaste e nem me
lembro da última vez que te vi não me lembro juro que me quero lembrar mas não consigo.
Gonçalo Naves
Foto retirada daqui: http://www.robsonpiresxerife.com/notas/velhinhos-curtindo-praia-de-nudismo-o-amor-e-lindo-nao-e-nao-tem-idade/
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