sábado, 13 de dezembro de 2014

A Lenda de Nogard - Capítulo 2 – Um Espião Em Meio À Grama

Capítulo 2 – Um Espião Em Meio À Grama

- O que, em nome das Nove Ilhas, vocês estão fazendo aqui? – perguntou Merlon, despejando sua cerveja no chão da clareira.

Hi, ele não gosta de desperdiçar cerveja, pensou Nogard que já estava em uma situação delicada. O tom de voz de Merlon não era agressivo, porem era sério e compenetrado, possuía uma voz áspera como se tivesse alguma coisa na garganta, apesar de ser um velho tinha um corpo largo e forte, era forte demais para sua idade e a forma com que arremessou a lança provava que ainda sabia lutar, estava vestido com uma longa capa cinzenta e seus cabelos eram tão brancos e longos quanto sua barba, a idade e o malho faziam com que ele ficasse mais corcunda a cada dia, seu rosto era marcado pelos incontáveis anos que serviu o Rei Arelon como general, e tinha uma longa e vermelha cicatriz no olho direito, desde a sobrancelha até a orelha, que ele mesmo chamava de Decadência de Merlon.
Merlon serviu o Rei Arelon durante anos, e defendeu o reino dos ataques selvagens e desordenados das forças do Falso Rei bravamente, naquele tempo os Dragões faziam a maior parte do trabalho mas os humanos sempre foram necessários pois os dragões se feriam como qualquer animal de Andor e as forças da Longa Sombra do Sul se multiplicavam rapidamente, apesar dos Dragões as batalhas eram sangrentas e muitas vidas foram perdidas ao longo dos anos, soldados que eram valiosos para o até então General Merlon. Antes da Ultima Grande Guerra, Merlon foi chamado pelo Rei em seus aposentos, a conversa durou um longo tempo e ninguém sabe o que eles conversaram, porem ao deixar os aposentos de Arelon, Merlon deixou claro para as tropas que aquela seria sua ultima batalha e que os soldados se preparassem para lutar sem a ajuda dos céus. Quando chegou o momento, aquilo que Merlon disse de fato aconteceu, os Dragões debandaram, os homens lutaram e sangraram como nunca antes e as terras de Andor beberam do sangue de seus defensores, as forças do Falso Rei emergiram da Floresta Escura tão numerosas quanto nunca, e para a surpresa dos homens vinham organizadas. Em formações de batalha complexas, paredes de escudos e linhas de Wargs montados pelos terríveis Bulks, eles vieram, e naquele outono foi visto pela primeira vez o mal em pessoa, carne, ossos e sombras, o Falso Rei. O Falso Rei comandava a infantaria do Sul cavalgando no maior Warg que os homens já viram, possuía a altura de três homens, usava uma mascara de ferro negro e de seus olhos fluíam sombras, seu corpo estava coberto por uma cota de malha de onde saiam sombras e vapores negros por seus elos, e nas mãos trazia um machado tão sujo e fétido que enojava e atordoava os homens mais rudes do exército. Por fim deu-se a guerra. A maior e mais demorada guerra de que se tem documentos, mais de cinco mil homens pereceram ao longo de dois anos, e a coisa que mais os matava era o Dragão do Falso Rei, o Grande Dragão Negro, Vergonha da Família Quebrador de Juras, Aquele que Restou, Lutheraxes, antigo defensor da cidade-sede de Angur.

- Queríamos trein... – começou Nogard, mas Arwen o interrompeu.
- Fui eu senhor Merlon. – a garota deu um passo a frente e ajoelhou-se.
Merlon olhou-os durante um momento, uma de suas sobrancelhas estava desconfiadamente erguida, coçou a barba, olhou as unhas e enfim falou.
- Levante-se garota, nunca se ajoelhe perante nenhum homem do reino.
- Nem perante o Rei? – perguntou Arwen para o desespero de Nogard.
Merlon foi de encontro à arvore onde a lança ainda vibrava.
- Nunca se ajoelhe perante nenhum homem do reino. Seu rei é uma lesma, você ajoelha para as lesmas quando vê uma nas plantas garota? – perguntou o homenzarrão.
- Não, e não sou mais uma garota.
- Hahaha, e o que é agora?
- Sou uma escudeira.
- Uma escudeira. Oh, sim como não vi antes, será que é culpa sua Decadência – perguntou Merlon para a cicatriz.

Não era raro Merlon falar com sua cicatriz, e isso deixava Nogard constrangido e inquieto, pobre Merlon, esta ficando muito velhinho.
- Tirou minha honra, minha chance e agora quer tirar minha maldita visão?
- Perdoe-me senhor eu não queria...
- Não estou falando com você garota. Mas já que falou, gostaria de me explicar como pretende ser uma escudeira, já que os escudeiros não só ajudam os cavaleiros mas também lutam contra os do Sul, sabendo-se é claro que é proibido as mulheres lutarem no território de Andor? – perguntou Merlon, e ao ver que as lanças que estavam no chão se tratavam das lanças de Lord Grum soutou uma blasfêmia tão proibida que Nogard sequer conhecia, até agora.
- Não sei. – respondeu Arwen de cabeça baixa, não sabia mais o que dizer, o medo a tomava.
Merlon olhou para Nogard que estava paralisado ao lado da grande pedra, e aproximou-se.
- Isso é seu? – perguntou Merlon estendendo um colar com um dragão entalhado em um pequeno pedaço de madeira.
Nogard tocou o pescoço de imediato e só então descobriu que tinha perdido em frente a taverna.
- É sim senhor. – disse Nogard pegando o colar.

Merlon deu uma fungadela e sorriu.
- Qualquer garoto na sua idade estaria chorando agora, mas não você – o velho olhou de relance para Arwen -, e nem você, conheci muitos garotos especiais Nogard, e já fui roubado antes – este comentário fez com que Nogard corasse -, mas nunca alguém como você e seu pai.
Nogard levantou a cabeça e em seus olhos brilhava uma curiosidade infantil.
- Meu pai?
- Sim, seu pai, seu pai era um guerreiro sem igual Nogard, e duelou ao meu lado quando entrei em embate com o Falso Rei em pessoa, bom, o resto é sabido eu ganhei minha Decadência e seu pai... seu pai esta nos Campos da Luz. Perderíamos aquela batalha, mas o Grande Lutheraxes estava ferido demais e recuou, sem poder conter nossos exércitos o Falso Rei voltou para o seu sombrio Sul.
Nogard e Arwen ouviam tudo como atenciosos gatinhos esperando uma tigela de leite frio. E para o azar das crianças o velho Merlon percebeu.
- Querem saber como expulsei os Bulks Piratas das Nove ilhas? – perguntou o velho terminando de recolher as lanças pela clareira.
- Sim! – responderam as crianças de imediato.
- Então parem de me roubar seus moleques, Hahaha. – e enxotou as crianças com a ponta da bota, Nogard e Arwen correram para a vila rindo como as crianças riem – E tomem um banho! – gritou o velho.

Porem quando as crianças saíram de vista o sorriso morreu nos lábios de Merlon, apanhou a ultima lança e olhou para os arbustos que moviam-se, algum animal fugia dali abrindo caminho pelo bosque para longe da vila.
- Warg espião – disse Merlon com uma carranca, olhou para o céu e sacudiu a cabeça negativamente -, os dias estão escuros demais, e quando chegar a hora, o que você fará velho Arelon?

*Por Marco Antonio Febrini Júnior

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