terça-feira, 18 de novembro de 2014

É do borogodó: Rosa, minha irmã Rosa

Quando a minha irmã nasceu, meu desapontamento ficou tão evidente que a minha mãe, abafada entre lençóis e cobertores da cama do hospital, me disse:
- Ela vai crescer num instante!
Assim como se me pedisse desculpa nem ela saberia com certeza de quê.
Num instante.
Num instante?” *

Recentemente fui agraciada com exemplar do livro "ROSA, MINHA IRMÃ ROSA", de Alice Vieira, com ilustrações de Odilon Moraes, publicado no Brasil pela editora Positivo, de Curitiba.
Conheci Alice Vieira pela rede social, por onde seguimos conversas até começarem os correios eletrônicos e, por último, o mais refinado trato de amigos fisicamente distantes: o correio tradicional.

“Aos amigos precisamos escrever cartas de verdade”, disse-me Alice. Eu não ousaria discordar de uma premissa tão honesta. A carta leva junto um pouco da gente, pode ser percebida como um toque, um abraço, um afago. Alice tem o cuidado do abraço e, ao longo de nossa amizade, abraços não faltaram.
 É com esse afeto que Alice conduz seus leitores. Em suas narrativas, percebemos uma linguagem que aproxima e acolhe, a gente se vê na pele das personagens e com elas podemos decifrar angústias que são próprias de nossa condição humana.

"Rosa, minha irmã Rosa" é o primeiro romance da autora e, também por isso, indispensável para desvendar um pouco da escrita de Alice Vieira. Alice é jornalista e a escrita de livros inicialmente não fazia parte dos projetos profissionais. “Mas, um dia, os meus filhos estavam de férias, e era preciso entretê-los (e ter pai e mãe jornalistas é dose…). Eles se queixavam de que não tinham nada para ler e lá vinham as acusações de costume: você está sempre no jornal, nunca escreve nada para nós, etc. Aí tive uma ideia que me pareceu brilhante (só não podia imaginar como ia mudar toda a minha vida): ‘ Querem uma história? Então vamos escrevê-la nós três!’.”

Nos vinte dias de férias, Alice escreveu o romance com os dois filhos para depois enfiá-lo em uma gaveta e nunca mais se lembrar da história. Assim ficaria Rosa, guardada para os costumes de revisitação da própria família.
Para nosso bem, Mário Castrim, marido de Alice, resgatou o original para inscrição em um concurso lançado por uma editora que iniciava no mercado. Era o Ano Internacional da Criança.
Não só foi vencedora do concurso, como, a partir de sua publicação, "Rosa, minha irmã Rosa" levou do jornalismo para a literatura o nome de Alice Vieira. Era ela quem inicialmente não tinha planos para essa escrita, não era?

A vida é de fato um negócio curioso. Eu mesma conheci Alice na rede social e ‘num instante’ estava lá, pelas ruas de Lisboa, ao lado da amiga, compartilhando o carinho dos leitores que passavam pela escritora e não resistiam em perguntar:
- Desculpa, a senhora é Alice Vieira, não é?
E ela sempre a sorrir, com uma disposição ímpar:
- Por acaso eu sou Alice Vieira.

Alice Vieira brincou com os filhos, mas não ‘por acaso’ se tornou uma das mais importantes escritoras de literatura para infância e juventude. Mais do que isso, é das pessoas mais verdadeiras que conheço e isso, sem dúvida, se apresenta em cada linha de seus livros.
Em tempo, o trecho transcrito (*) no primeiro parágrafo,  inicia o romance "Rosa, minha irmã Rosa", de Alice Vieira, editora Positivo de Curitiba, Brasil.
Por fim, Alice também tem escritos para adultos que são imperdíveis. Procurem saber.

Penélope Martins

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