terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ana Catarina Gil Campos: Poema de que gosto muito…

Foto de Ana Catarina Gil Campos: técnica de sobreposição em que na
fotografia de fundo aparece o edifício Copan de Oscar Niemeyer

Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quando o sentido caminha,
a palavra permanece.
Quem sabe mal digo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é a minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialecto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

*Paulo Leminski

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