sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Primeiro Parágrafo: «O Homem que Perseguia o Tempo»



Já terão visto gralhas-calvas.
Não se deixem desiludir por uma
aparente vulgaridade.
As gralhas-calvas estão envoltas
num manto de mistério celestial e glorioso.
Não são o que parecem.

Mark Cocker, Crow Country

P.V.P.: 18,50 € 
Data de Edição: 2014
Nº de Páginas: 408
Editora: Marcador

Ouvi dizer, àqueles que sobre isso nada sabem, que nos momentos finais da sua existência uma pessoa revê toda a sua vida. Se assim fosse, um cínico poderia presumir que os últimos momentos de William Bellman foram passados a revisitar a infindável lista de cálculos, contratos e negócios que fizeram parte da sua existência. Na verdade, quando se aproximou do limiar do outro lado - limiar para onde, mais cedo ou mais tarde, todos nos encaminharemos -, os seus pensamentos desembocaram nas pessoas que já haviam realizado a travessia para esse território desconhecido: a mulher, três filhos, o tio, o primo e alguns amigos de infância. Depois de recordar os entes queridos que perdera, estando ainda a alguns instantes da morte, teve tempo para um último exercício de memória. O que desenterrou, algo que jazera cerca de quarenta anos na arqueologia da sua mente, foi uma gralha-calva.

*in O Homem que Perseguia o Tempo, Diane Setterfield

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