terça-feira, 26 de agosto de 2014

É do borogodó: mais Manoel de Barros

"Hoje eu completei oitenta e cinco anos.

O poeta nasceu de treze. Naquela ocasião escrevi

uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda,

contando que eu já decidira o que queria ser no

meu futuro. Que eu não queria ser doutor.

Nem doutor de curar nem doutor de fazer casa

nem doutor de medir terras. Que eu queria ser

fraseador. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser

fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais

velho perguntou: Mas esse tal de fraseador bota

mantimento em casa? Eu não queria ser doutor,

eu só queria ser fraseador. Meu irmão insistiu:

Mas se fraseador não bota mantimento em casa,

nós temos que botar uma enxada na mão desse

menino para ele deixar de variar. A mãe baixou a

cabeça um pouco mais. O pai continuou meio

vago. Mas não botou enxada."


Manoel de Barros *

* escolhido pela Penélope Martins


1 comentário:

  1. Fraseador não usa a enxada, mas a sua caneta pode semear encantos... Nem só de pão vive o homem!

    Lídia

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