domingo, 6 de julho de 2014

Gosto do que vejo!


Rute Coelho em entrevista

Depois de O Inimigo Invisível, em que abordou o tema da Maçonaria, Gostas do que Vês?, é o segundo livro desta autora, lisboeta, quase jornalista, porém advogada e... vamos saber mais.


Raquel Serejo Martins: O livro aborda, ao caso no feminino, uma vez que temos como personagens principais duas mulheres, Natália e Cecília, o tema do tamanho do corpo, no tempo do primado da imagem. Assim, duas perguntas: Somos o que parecemos?  E como lidam com a sua condição estas mulheres?
Rute Coelho: A imagem é o primeiro olhar do outro. É o nosso reflexo pela manhã ao espelho quando acordamos, por isso também somos o que parecemos, quer queiramos assumir isso, quer não.
As personagens vivem presas numa obesidade mórbida, embora lidem com essa condição de forma diferente. A Natália não aceita que o seu corpo é diferente e quer ser igual às outras mulheres, porque imagina que sendo magra será feliz. A Cecília, pelo contrário assume as suas curvas com confiança e determinação tanto na sua vida profissional como na sua vida pessoal.

RSM: Qual a sua personagem preferida e porquê?
RC: Gosto das duas personagens. São duas facetas de uma mesma realidade. É injusto escolher uma delas, porque ambas tem um pouco de mim.

RSM: Seria possível este livro ter como personagens principais dois homens, parece-lhe que esta questão se coloca com a mesma acuidade no masculino?
RC: As mulheres vêem-se mais ao espelho do que os homens. Apesar disso, não tenho dúvidas que um miúdo gordo na escola sofre tanto com as piadas como as raparigas, e na adolescência e na idade adulta, é ignorado, exatamente, da mesma forma. Ser diferente pelo tamanho do corpo, por ter um nariz mais pontiagudo ou orelhas de Dumbo, é sempre motivo de chacota e de descriminação.

RSM: Como foi o processo de concepção do livro? Partiu de uma estrutura prévia, conhecia à priori o final do livro, ou a história foi-se fazendo à medida da escrita?
RC: Quando comecei a escrever este livro sabia que queria escrever a duas vozes, queria que fossem distintas e queria que retratassem um pouco o universo da relação que temos com o corpo numa época em que se valoriza tanto a imagem. A narrativa foi acontecendo à medida do desenvolvimento das próprias personagens.

RSM: Pessoalmente parece-me corajoso abordar este tema. Enquanto escrevia teve momentos em que sentiu precisar de coragem?
RC: Senti que era importante as pessoas perceberem que não as únicas a estarem naquele tipo de situações. A sentirem que precisam de ser isto ou aquilo para serem felizes. No entanto, confesso que houve episódios mais difíceis de escrever do que outros.

RSM: Gostas do que vês? – O título é uma pergunta, a resposta pode ser um tiro de bala. Será esta a pergunta que de forma silenciosa e permanente fazemos aos outros? E bem aventurados os que não sentem necessidade de perguntar, porque aos mesmos pertence a calma dos dias?
RC: Devemos primeiramente fazê-la a nós. Se estivermos confiantes em quem somos e no nosso valor, isso transparecerá. Contamos sempre com a opinião dos outros, mas não nos precisamos de subjugar a ela.

RSM: E quanto à Rute Coelho como leitora, três livros de leitura recente de que gostou?
RC: « O Complexo de Portnoy » de Philph Roth, «1Q84 vol1» de Haruki Murakami e os «Níveis da Vida» de Julian Barnes


E bem vinda ao Clube de Leitores!

1 comentário: