Rute Coelho em
entrevista
Depois de O Inimigo Invisível, em que abordou o
tema da Maçonaria, Gostas do que Vês?,
é o segundo livro desta autora, lisboeta, quase jornalista, porém advogada e...
vamos saber mais.
Raquel Serejo
Martins: O livro aborda, ao caso no feminino, uma vez que temos como
personagens principais duas mulheres, Natália e Cecília, o tema do tamanho do
corpo, no tempo do primado da imagem. Assim, duas perguntas: Somos o que
parecemos? E como lidam com a sua
condição estas mulheres?
Rute Coelho: A
imagem é o primeiro olhar do outro. É o nosso reflexo pela manhã ao espelho
quando acordamos, por isso também somos o que parecemos, quer queiramos assumir
isso, quer não.
As personagens
vivem presas numa obesidade mórbida, embora lidem com essa condição de forma
diferente. A Natália não aceita que o seu corpo é diferente e quer ser igual às
outras mulheres, porque imagina que sendo magra será feliz. A Cecília, pelo
contrário assume as suas curvas com confiança e determinação tanto na sua vida
profissional como na sua vida pessoal.
RSM: Qual a sua
personagem preferida e porquê?
RC: Gosto das
duas personagens. São duas facetas de uma mesma realidade. É injusto escolher
uma delas, porque ambas tem um pouco de mim.
RSM: Seria
possível este livro ter como personagens principais dois homens, parece-lhe que
esta questão se coloca com a mesma acuidade no masculino?
RC: As mulheres
vêem-se mais ao espelho do que os homens. Apesar disso, não tenho dúvidas que
um miúdo gordo na escola sofre tanto com as piadas como as raparigas, e na
adolescência e na idade adulta, é ignorado, exatamente, da mesma forma. Ser
diferente pelo tamanho do corpo, por ter um nariz mais pontiagudo ou orelhas de
Dumbo, é sempre motivo de chacota e
de descriminação.
RSM: Como foi o
processo de concepção do livro? Partiu de uma estrutura prévia, conhecia à priori o final do livro, ou a história
foi-se fazendo à medida da escrita?
RC: Quando
comecei a escrever este livro sabia que queria escrever a duas vozes, queria
que fossem distintas e queria que retratassem um pouco o universo da relação
que temos com o corpo numa época em que se valoriza tanto a imagem. A narrativa
foi acontecendo à medida do desenvolvimento das próprias personagens.
RSM:
Pessoalmente parece-me corajoso abordar este tema. Enquanto escrevia teve
momentos em que sentiu precisar de coragem?
RC: Senti que
era importante as pessoas perceberem que não as únicas a estarem naquele tipo
de situações. A sentirem que precisam de ser isto ou aquilo para serem felizes.
No entanto, confesso que houve episódios mais difíceis de escrever do que
outros.
RSM: Gostas do
que vês? – O título é uma pergunta, a resposta pode ser um tiro de bala. Será
esta a pergunta que de forma silenciosa e permanente fazemos aos outros? E bem
aventurados os que não sentem necessidade de perguntar, porque aos mesmos
pertence a calma dos dias?
RC: Devemos
primeiramente fazê-la a nós. Se estivermos confiantes em quem somos e no nosso
valor, isso transparecerá. Contamos sempre com a opinião dos outros, mas não
nos precisamos de subjugar a ela.
RSM: E quanto à
Rute Coelho como leitora, três livros de leitura recente de que gostou?
RC: « O Complexo
de Portnoy » de Philph Roth, «1Q84 vol1» de Haruki Murakami e os «Níveis da
Vida» de Julian Barnes
E bem vinda ao
Clube de Leitores!
Gostei bastante da entrevista. Bem transparente, adorei!
ResponderEliminar