"Por
mim, se tivesse de escolher uma única forma de Belo não apontaria o Amor –
muito menos a generosidade, inteligência ou a vontade de ousar. Tudo isso nos
faz ser maiores e oferece-nos um sentido, mas se testemunhasse sobre o que
julgo sermos, não hesitaria: o mais maravilhoso que podemos encontrar é um
velho coberto de sonhos.
Nada me
comove tanto. Sempre que os vejo juro não desistir dessa estrada carregada de
horizonte e utopia. (...) Apenas da nossa inclemência com os velhos que até ao
fim falam e esbracejam como se fossem jovens. Dos que não têm medo do ridículo.
Dos que execram a expressão ‘sénior’ para substituir a palavra velho, expressão
liofilizada que, sob um ridículo manto da dignidade, arruma homens e mulheres
num museu do politicamente correcto.
Isso e a
ditadura de desejar para os nossos filhos uma vida de vitórias e grandes
objectivos. Desejo compreensível e redutor. Porque os que vivem apenas focados
nos grandes objectivos (pelos menos os que conheço), crescem deformados e
morrem vazios, mesmo que as pessoas os celebrem como pessoas cheias. O mesmo
para os que vivem em função do trabalho ou até da condição de pais ou mães. No
exercício de viver devemos abrir a porta também ao que não tem aparente
importância – gritar por uma equipa, ver filmes, fazer colecções de caixas de
fósforos ou o que quer que seja. É nas pequenas coisas que está o oxigénio para
as grandes. Sem elas morreremos envenenados de tão tóxicos. E envenenados de
contradições."
Excerto da crónica de Luís Osório,
no Semanário Sol: "Os chineses não adoecem ou morrem"
18-11-2013
Cabanas de Tavira, 2013, foto de Marta Antunes
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