vinha no trem uma mulher com verniz nas unhas. tom rosa pálido que não combinava com a blusa bordada de lantejoulas douradas. extravagantes as sandálias de dedo com as unhas dos pés também pintadas. os olhos da mulher eram pequenos, apertados no meio de um rosto marcado – ainda que ela o tivesse tentado esconder com a maquilagem pastosa. vinha no trem uma mulher que eu não conheço; suas unhas rosadas levavam minha atenção porque os dedos dela eram delicados e mansos passeando por mechas de seus cabelos descoloridos. e eu imaginei que dentro de seus lábios ressecados dormia uma história que me faria gostar ainda mais de estar sentada ao seu lado, num trem qualquer, num dia perfeito como hoje.
*Penélope Martins, em ‘coisas da vida’.
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