choveu o dia seguinte, o outro também. o papel de seda encharcou entre as nuvens do meu querer. envergaram os meus ombros. sufoquei a ilusão com um duro golpe. ela ligou, eu não respondi. ela escreveu, eu não li. ela chamou por mim e eu deixei que ela se fosse, aos poucos, sumindo, desintegrando, desfazendo aquele mal. aos poucos ela desistiria de insistir e eu teria que desistir na desistência dela. por aqueles dias corri ver meu time. convidei alguém para minha cama sofrendo não aspirar naquele novo corpo o mesmo perfume que desenhava minhas utopias. engoli a saudade a palo seco. a palo seco foi a expressão que ela usou quando disse que me diria aquilo que disse numa tarde, sentada na poltrona que resta vazia entre as brumas do meu silêncio.
Penélope Martins
ilustração de Ayssa Bastos |
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