sábado, 28 de junho de 2014

Eu poético: «Aprender»

Aprender

só Vós sois o Santo;
só Vós, o Senhor;
só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo;
com o Espírito Santo,
na glória de Deus Pai.
ámen.


aprendi a glorificar-te sem saber de que matéria és feito.
ou sequer se és matéria.
sei que tudo em ti é amor,
mas quem mo ensinou
não
foste
tu.

foi a mão que me agarrou com força,
o beijo de olhos fechados,
o sabor daquele momento,
os risos que troquei enquanto tremia.

aprendi que é a ti que devo perdão.
e por isso és a voz com quem falo à noite.
aquela que talha os meus medos,
passa álcool pelas feridas da angústia
e traça os caminhos num futuro que não sei quando acaba.

aprendi que devo agradecer.
e por isso faço-o disparando lengalengas.
são preces de desejos,
pedidos de orientação,
vozes interiores de sim e de não,
cartas pedindo felicidade servida ao quilo.

na verdade não sei bem o que aprendi.
se tu és tudo o que penso...
porque é que ainda se ama em segredo,
se perdoa por conveniência,
se agradece para abafar limitações humanas?

afinal acho que aprendi que nada aprendo.
sou um vagabundo perdido a pedir dinheiro numa rua de gente rica.

Rodrigo Ferrão
Foto: Rodrigo Ferrão

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