terça-feira, 6 de maio de 2014

É do borogodó: A xícara de chá, reconto de lenda budista

Conta uma lenda que havia um Mosteiro no alto de uma Montanha onde vivia um Grande Mestre Zen cuja sabedoria alcançava os segredos para iluminação da mente humana.
Muitos procuravam pelo Grande Mestre, mas suas mentes não estavam preparadas para receber todo conhecimento. Eles deveriam persistir e persistir, mas isto demoraria muito e os homens não tinham tempo para dispor.

Um dia, do outro lado do continente, um homem que dedicava sua vida à busca de revelar a verdade, soube da existência do Grande Mestre Zen e resolveu procurá-lo para debater com ele os mistérios da existência humana.
O homem viajou durante dias e noites. Durante a viagem, pensava e anotava em seu caderno questões a debater; dentro de sua mente, o homem crescia em convicções e se sentia pronto para confrontar o Grande Mestre qual fosse o assunto que tratassem.
Chegando na Cidade, faltava subir a imensa montanha para chegar ao Mosteiro. Durante toda caminhada, o homem não podia anotar coisas em seu caderno, mas falava consigo em alta voz, repetindo suas máximas verdades.

Ao chegar ao Mosteiro, o próprio Grande Mestre o recebeu na porta.
- Mas que lugar é esse onde o Grande Mestre serve para atender à porta? – Perguntou o homem, indignado com a cena.
- Deve estar cansado por causa da viagem. Entre para uma xícara de chá. – Respondeu o Grande Mestre.
O homem desatou a falar tudo que sabia, mas Grande Mestre insistiu que primeiro tomariam o chá. O homem estava tão ansioso que, enquanto o Mestre colocava em suas mãos a xícara, ele falava, falava, falava.

O Grande Mestre começou a  servir o chá continuamente. O homem falando e falando, afirmando todas as suas certezas. O líquido começou a cair sobre o próprio homem, também o tapete e o assoalho já estavam molhados.
- Basta! – Disse o homem. – Não vê que está me molhando com seu chá? Que tipo de Mestre estúpido não consegue servir um chá!

Foi então que o Grande Mestre interrompeu o despejamento de chá e respondeu calmamente ao homem que lhe falava:
- Assim como essa xícara, sua mente está cheia de certezas e nada que eu possa lhe transmitir será capaz de fazer diferença para sua vida.  Agora vá embora, faça sua jornada de volta e esvazie sua xícara. Quando sua mente estiver vazia, retorne e nós conversaremos.

Penélope Martins


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