terça-feira, 20 de maio de 2014

A Tinta-da-China lançou o livro de Matilde Campilho - «jóquei»

Matilde Campilho

Matilde Campilho nasceu em Lisboa em 1982. No ano de 2010 foi viver para o Brasil, e desde então mora entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Publicou poemas nos jornais brasileiros A Folha de São Paulo e O Globo, assim como em algumas revistas online.

Jóquei é o seu primeiro livro.


ATÉ AS RUÍNAS PODEMOS
AMAR NESTE LUGAR

Lembro-me muito bem do tal cantor basco 
que costumava celebrar a chuva no verão 
Não ligava quase nada para as conspirações 
que recorrentemente se faziam ouvir
debaixo das arcadas noturnas da cidade 
naquela época do intermezzo lunar 
Foi já depois do fascismo, um pouco antes 
da democracia enfaixada em magnólias 
O cantor, as arcadas, o perfume e os disparos 
me ensinaram que se deve aproveitar a época 
de transição para destrinçar o brilho 
As revoluções sempre foram o lugar certo 
para a descoberta do sossego: 
talvez porque nenhuma casa é segura 
talvez porque nenhum corpo é seguro 
ou talvez porque depois de encarar uma arma 
finalmente possa ser possível entender 
as múltiplas possibilidades de uma arma. 


AVARANDADO 


Quarta nota para 
a manhã infinita: 

Afinal o grande amor 
Não garante nada mais 
Do que as 12 graças 
Desdobradas pelos 
Corredores do mundo 
Agora isso é mais 
Do que suficiente 
E apesar dos bofetões 
Do tempo invertido 
Apesar das visitas 
Breves do pavor 
A beleza é tudo 
O que permanece.

1 comentário:

  1. Este livro é qualquer coisa de espectacular. Poesia sem pretensão. Gosto muito.

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