Na verdade, hoje apresentamo-vos um novo membro deste blog: Gonçalo Viana de Sousa, flâneur das sensações.
Gonçalo é um homem já feito, pois o tempo e as revoluções sulcam a sua memória. Maio de 68 e 25 de Abril são para este nosso novo membro locais interiores, praças ali ao lado.
Actualmente, Gonçalo Viana de Sousa reside na Rua do Brasil, em Coimbra.
Poderemos ler os seus poemas, os seus contos ou as suas reflexões, aqui, semanalmente, pois o tempo, para Gonçalo, é líquido.
Para começar, deixamos no vosso regaço um conto do livro de contos Homens e Demónios.
Naquele Jardim
Naquele jardim, ali, ao pé daquela
avenida que só nós conhecemos, porque víamos com os olhos de dentro.
Vi-te para sempre. Vimo-nos para sempre. As coisas íntimas a sussurrarem: segredo, eram o nosso caminho até àquele jardim. O nosso olhar ardia como raízes de árvores outras. Árvores crescidas na sombra de luares onde Byron e Beethoven sonharam tudo. Luares prateados, lagos sonoros, florestas germânicas, jardins ingleses. Quando Schubert era menino e Chopin gatinhava. Ele! Ele! Ele! Essa certeza grande e generosa de vê-lo e dizer ele que era: tu. E tu! Tu! Tão-somente tu! A crescer dentro de mim como um sonho, um suspiro, um sorriso sem medo, como um retiro, um segredo, entre a praia e o rochedo.
Eu, colhendo flores, com uma fita no cabelo. Bela e nume. Angélica. Jovem. O tempo passa e não se cala. Mas eu calo-me. Cansaço.
Naquele jardim, ali, ao pé do céu em que nos fizeram acreditar em palavras doces e de eternidade. Vi-te para sempre.
O amor a tornar-se inexplicável e estúpido. O amor a embalar os lábios em beijos refrescantes e sedosos que até chegam a meter nojo! Vimo-nos para sempre.
Ele olhando para mim. Os teus olhos são a minha casa, disse-me ele. Depois, a polícia a correr, ele a correr, um som de bala perfurando a carne, três vezes.
Vimo-nos para sempre.
Vi-te para sempre. Vimo-nos para sempre. As coisas íntimas a sussurrarem: segredo, eram o nosso caminho até àquele jardim. O nosso olhar ardia como raízes de árvores outras. Árvores crescidas na sombra de luares onde Byron e Beethoven sonharam tudo. Luares prateados, lagos sonoros, florestas germânicas, jardins ingleses. Quando Schubert era menino e Chopin gatinhava. Ele! Ele! Ele! Essa certeza grande e generosa de vê-lo e dizer ele que era: tu. E tu! Tu! Tão-somente tu! A crescer dentro de mim como um sonho, um suspiro, um sorriso sem medo, como um retiro, um segredo, entre a praia e o rochedo.
Eu, colhendo flores, com uma fita no cabelo. Bela e nume. Angélica. Jovem. O tempo passa e não se cala. Mas eu calo-me. Cansaço.
Naquele jardim, ali, ao pé do céu em que nos fizeram acreditar em palavras doces e de eternidade. Vi-te para sempre.
O amor a tornar-se inexplicável e estúpido. O amor a embalar os lábios em beijos refrescantes e sedosos que até chegam a meter nojo! Vimo-nos para sempre.
Ele olhando para mim. Os teus olhos são a minha casa, disse-me ele. Depois, a polícia a correr, ele a correr, um som de bala perfurando a carne, três vezes.
Vimo-nos para sempre.
Imagem tirada daqui: http://www.thelemming.com/lemming/dissertation-web/images/flaneur.jpg
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