quinta-feira, 10 de abril de 2014

Eu poético: «De Repente»

De Repente

estavas vestida de ternura,
seguias firme rua abaixo
e a noite iluminava a sombra do teu corpo.
carregávamos por entre as mãos o colar que te ofereci
e assobiávamos juntos a música do Clapton:

And then she'll ask me, "do you feel all right?"
And I'll say yes, I feel wonderful tonight


e eu pedia de mim para mim que o mundo acabasse ali para que eu morresse com a sensação de estar no pico mais alto do mundo a hastear a bandeira da felicidade.

e depois seguíamos os dois
na barca que atravessa o rio de ouro
rumo ao mar da eternidade.
chegados à foz,
éramos brindados pela luz
e pelas aves a cortar o céu nos seus voos picados.
bastaria então o teu sorriso
para serenar de vez o meu espírito.

de repente.
e
tão

de
repente...

vejo-me sugado por um túnel de vento.
ouço nova música de fundo,
desta vez a voz do Palma.

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal

é assim que estremeço e acordo.

abro o olho, 
espreito o relógio da cabeceira
e vejo que são
cinco
e
doze
da 
manhã.

Rodrigo Ferrão

Foto: Rodrigo Ferrão

2 comentários:

  1. Magnífico!
    O género de poesia que adoro porque me identifico com esta escrita, com esta estrutura e com esta sonoridade. Parabéns ao Rodrigo Ferrão

    ResponderEliminar
  2. Muito obrigado Conceição, é bom ler as suas palavras.

    ResponderEliminar