terça-feira, 22 de abril de 2014

É do borogodó: uma incrível história

A Incrível História do Menino Que Não Queria Cortar o Cabelo nasceu de uma brincadeira com meu filho André, que hoje já está um homem de 12 anos. André adorava contos sombrios, com bruxos a dar sustos em toda a gente. Acontece que André nunca dispensou uma anedota, desde muito pequenino, ele queria histórias de terror que se misturassem a boas gargalhadas. Por isso, inventei de contar essa história de uma mãe que morava com seu filho no alto de uma montanha, em um vilarejo repleto de seres maléficos e horripilantes. 


 O garoto não era lá uma criança muito calma: vivia metido em confusões e era bem malcriado com a mãe. Não gostava de tomar banho, de escovar os dentes nem de pentear os cabelos. E, para desespero da mãe, jurava que nunca, mas nunca mesmo, deixaria que lhe cortassem os cabelos. “Meu cabelo é precioso! Preciso dele mais que tudo nesta vida!”, dizia. Cansada de tanto pedir, a mãe mudou de estratégia. Passou a contar a história de um bruxo que pegava crianças fedidas [mal cheirosas] e desobedientes. Mas o garoto continuava zombando, achando boa ideia viver num castelo com um bruxo e outras crianças sujismundas...

Sem saber o que fazer – o que ocorre sempre na tarefa de mãe – a história do bruxo foi aumentando com detalhes terríveis, até atingir o ápice do desespero materno e para surpresa de todos com aparecimento do bruxo num voo certeiro para apanhar o menino fedido. Claro que não vou contar a história toda. 

André foi crescendo com essa e outras histórias, mas sempre me cobrava quando o “menino que não queria cortar o cabelo” viraria um livro. Um dia mostrei para meu editor, Duda Albuquerque, e ele disse de imediato: este livro eu quero, vamos fazer? Para completar a cena, Duda sugeriu o nome da ilustradora Cris Alhadeff que, sobretudo, tem um trabalho de excelente comunicação visual e com notável senso de humor. 

Tem gente que acha um absurdo inventar de contar história para criança que convença a ter bons hábitos com a presença de um elemento de terror. Já aviso que não é esta a intenção do livro. O livro fala de chulé, melecas [macacos do nariz], crianças birrentas e mães enlouquecidas como eu, como tantas. Minha mãe contava para mim a história de um homem que perambulava pelas ruas atrás de crianças. Ela morria de medo que eu atravessasse mais que dois quarteirões do bairro onde morávamos. E eu atravessava muito mais do que dois quarteirões, claro. 

Cresci com uma imaginação cheia de personagens por conta de tanta coisa que meus pais me contavam, também meus avós. Histórias de fantasia e histórias de infância. Eu nem me importava qual delas era verdade porque tudo fazia imenso sentido. Era maravilhoso imaginar aquilo tudo. Para completar a cena, fiz uma música melequenta que estreámos no dia de lançamento do livro do menino, no início deste mês. 

Compartilho com o Clube as fotos apetitosas da brincadeira e a canção ‘bola de grude’. Hum... Gostoso como descobrir macaquinhos no nariz.

Penélope Martins

* Para verem fotos do lançamento, espreitem aqui:
 http://projetomardepalavras.wordpress.com/


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