terça-feira, 25 de março de 2014

Pedro Guilherme-Moreira, dia 2 (sobre "O meu pé de laranja lima")

dia 2: O meu pé de laranja lima

"Relendo "O meu pé de laranja lima", envergonhado. O meu primeiro livro "a sério", não infantil nem juvenil, que eu levava pelos corredores do colégio para ter força e me sentir menos sozinho aos doze anos. O Zezé era o meu tronco e falava comigo. Tenho vergonha de não ter relido antes, porque está cá tudo, e até parece simples. Comove e faz rir a cada página. Eu não sabia chorar como crescido antes do Mauro mo ter ensinado. Tem um poema ao pai que é uma merda, dizia o pai. Eu queria concorrer com ele a um concurso literário que também era para crescidos. Era preciso passar à máquina, mas o pai negou, que o poema era uma merda. Eu lia e relia e parecia-me bem, eu era um rio e o pai estava na foz. Passei-o à mão com o joelho no paralelo e a folha sobre um banco de cimento e pedi ao júri dispensa de forma. As lágrimas corriam, eu pensava que ainda eram lágrimas de menino, mas o Mauro, o Zezé e, principalmente, o tio Edmundo, disseram que era direito fundamental, que qualquer homem choraria nessa circunstância. Não quero contar muito mais, para já. Apenas que quem ganhou aquele concurso literário de crescidos foram dois meninos ex-aequo: um de treze anos que se chamava Paulo Rangel, e um de doze que se chamava eu. Eu levava "O meu pé de laranja lima" na mão quando fui receber o prémio."

*Pedro Guilherme-Moreira - esta semana em destaque no Clube de Leitores


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