pediste-me para pegar num bisturi
e te abrir ao meio.
procura o coração - disseste.
respondi a pronto: para quê esse trabalho?
aí só encontro
ódio,
rancor,
inveja,
ciúme,
raiva.
já não consigo lembrar quem foste,
o que sonhaste
e o que queres.
não vislumbro
alma,
sonho,
desejo.
és sinal stop.
já não és sentido único.
acabou.
estou farto de adormecer abraçado a fantasmas.
a verdade é que tens tripas
(no
lugar
onde
devia
bater
qualquer
coisa).
aí não pode haver espaço para a emoção.
és fria como um ditador,
distante daqui à lua,
gelada como o fim do mundo,
inóspita,
seca.
és como uma máquina qualquer -
só sobrevives porque és alimentada
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a
pilhas.
Rodrigo Ferrão
Foto: Rodrigo Ferrão
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