só existem três formas de morrer.
morrer devagar.
..............................
....................
..........
a tempo de dizer adeus,
pedir desculpa uma vez mais
e saber perdoar quem nos magoou.
começamos a arrumar a casa,
a tratar dos papéis.
convocamos os interessados no património
e deixamos as memórias escritas numa caixa.
saboreamos o pôr-do-sol como se fosse o último,
comovemo-nos com a promessa de uma onda no mar
e com o nascimento de uma vida.
(sim, uma vida que vem tomar a nossa).
devagar sofremos a conta-gotas,
revoltados com a ideia de um futuro.
os nossos sonhos passam a condição
e são arrumados na estratosfera da consciência.
deixamos de mandar em nós,
agora quem manda é o corpo.
o corpo que todos os dias apodrece.
sempre mais.
sempre um bocadinho mais...
morrer de repente.
*****************
***********
******
sem tempo para dizer um ai
ou sequer ver a vida em rodapé.
a surpresa instala-se:
"ainda ontem estava tão bem, comadre.
e olhe, já cá não está...
a vida é mesmo assim -
não valemos nada, mesmo nada."
fica tudo desarrumado, mesmo o mais íntimo segredo.
e os outros questionam-se do paradeiro do número de conta,
onde estão as chaves de casa
e quem é aquele que afirma ser o filho.
não há tempo para pagar dívidas
nem para gozar o dinheiro que nos sobra.
alguém fica com ele, no problem.
who cares?
who fucking cares?
----------------------
---------------
--------
morrer
de
amor
não
tem
explicação
nos
poemas.
Rodrigo Ferrão
Foto: Rodrigo Ferrão
Sem comentários:
Enviar um comentário