naquela tarde sentei-me à beira-rio
a atirar pedras.
em cada splash
olhava os anéis de água
até perder de vista.
e depois pensei
com os meus botões...
será que os peixinhos fazem surf
naquela mini onda?
e a pedra?
será que derruba os castelos encantados
do fundo do rio?
se o homem anda de carro para perpetuar a preguiça,
ali debaixo como será?
se no céu voam os aviões,
então as folhas caídas transportam os peixes à lua.
à lua deles.
a lua que brilha nas noites
e é reflexo da nossa.
de repente quero ser astronauta.
deste e de outros mundos.
naquela tarde sentei-me ali
e vi meu reflexo espelhado.
não tenho barba
nem brancas.
não tenho o remorso do passado
nem o medo do futuro.
nunca trabalhei
nem sei a força precisa para carregar
sacos de batatas.
tenho medo de monstros
que se escondem no escuro.
ainda pergunto
o que acontece aos mortos.
os dias mais quentes
são os dos abraços...
dos abraços de minha mãe.
sou ser fraco de músculos,
forte em brincadeira.
tenho a energia de cem velhos
e a rapidez de mil caranguejos
(dos que se escondem a correr nas rochas).
naquela tarde imaginei
e fiz fantasia.
brinquei como sei
e como posso.
e tudo isto porque sou o que sou.
sou apenas criança.
Rodrigo Ferrão
Foto: Rodrigo Ferrão
Sem comentários:
Enviar um comentário