quarta-feira, 26 de março de 2014

ALA... que é poesia XVI

Há poemas que não falam para mim. Mas parece que falam comigo. Dizem-me coisas que me espantam ou me amolecem. Coisas que eu talvez não adivinhasse. Como o conceito de abraçar "como o traço de um açoite". Se fazem sentido? Talvez. Fazem sentido para si?

Assim continua a compilação dos poemas de Lobo Antunes, espalhados por aí, principalmente na música. Como este "Fado Isabel", que surge no disco "A Canção do Bandido", de 1995, do Vitorino. 

Ana Almeida


Fado Isabel 

Que dia tão mais noite que esta noite
onde a lua de Outubro amanhecia
que dia tão mais noite que esta noite
que noite tão mais dia que este dia
 

que abraço como o traço de um açoite
marcado a sangrar na carne fria
que dia tão mais noite que esta noite
a raiva que de ti me despedia
 

ó meu amor que noite tão de noite
como a noite que em nós de noite havia
era de noite e foi de noite
 

que a lua em mim nascida em ti morria
que a noite tão mais noite que esta noite
que dia tão mais dia que este dia

António Lobo Antunes

PARA ASSISTIR AO VIDEO SIGA O LINK:
http://www.youtube.com/watch?v=SBxbXe65bQI

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