quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Eu poético: «Foge»

Foge

foge comigo esta manhã.

o frio sobe da terra,
o orvalho cai das folhas,
os pardais cantam 
e banham-se nas poças de água.
tomamos café na padaria da esquina,
compramos o jornal,
apanhamos o metro
e a seguir o comboio.
vamos sem destino, 
temos o dia inteiro para nós 
e uma vida à nossa frente.

ou então
foge comigo esta tarde.

fumamos um cigarro depois do almoço,
estendemo-nos no relvado 
e sentimos o sol tímido que espreita por entre as nuvens.
abrimos uma garrafa de vinho
e brindamos ao amor.
ao nosso e ao dos outros,
ao amor em geral.
depois vamos para o rio atirar pedras.
por fim, rimo-nos dos engravatados carrancudos
que entram nos carros 
e só chegam a casa dentro de uma hora.

não!
fugimos de noite.

quando todas as persianas e portas estão fechadas,
quando a luz mais forte é a dos candeeiros
e temos a lua para nós. 
já bêbados,
deambulamos por aí e
dizemos segredos um ao outro.
adormecemos agarrados num só.
sonhamos que isto não vai ter fim,
nem mesmo com a morte.

foge comigo, mas foge hoje.
foge...
que eu amanhã já me vou. 

Rodrigo Ferrão

Foto: Rodrigo Ferrão

4 comentários:

  1. Rodrigo, voltei.

    Teu poema me inspirou este aqui :::

    http://avidanumagoa.blogspot.com.br/2014/02/ja-nao-precisas-levantar-os-pes.html

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  2. A vida numa Goa: Que curioso e bonito ter inspirado um poema teu. Obrigado pelas palavras.

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