quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eu poético: «Pó»



entre a existência e a morte, um segundo.

gabamo-nos da nossa individualidade -
de como somos belos,
fortes, invencíveis,
imperturbáveis,
jovens e bons.

o drama é nosso, não é dos outros.

porque eles
não compreendem,
não podem ajudar,
estão muito ocupados,
não vêem o tempo a passar.

um dia a alegria esgota,
a tristeza termina,
a angústia é esquecida
e a saudade arrumada.

aí alguém porá uma rosa,
dirá uma palavra amiga,
abrirá as mãos aos céus
ou cantará uma canção.

pouco tempo falta para deixarmos de ser únicos
e passarmos a ser iguais ao nosso destino:

sermos apenas pó
(lançado ao vento).

Rodrigo Ferrão


Foto: Rodrigo Ferrão

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