
elejo a bananeira minha árvore de natal. sobretudo por gostar do verde
das folhas no contraponto brasileiríssimo do ouro das bananas que também
são enfeites comestíveis. não recuso os pinheiros e gosto muito deles
por sinal, mas as bananeiras me parecem hermeticamente faceiras – quem
nunca duvidou ter uma serpente escondida embaixo de suas palhas?
prudente dúvida. por fim ou entre o começo e o que pode ser o fim, as
bananeiras detém atenção das mentes despudoradas com fálico arcabouço da
saciedade. sacia-me, sacia-te, sacia-nos. toda banana é uma forma de
esplendor. a flor da bananeira desabrocha digna de uma ode, quiçá uma
epopeia para fazer valer seu sabor sobre a maçã eleita musa na égloga do
poeta. tantos são os argumentos de minha tese, elejo a bananeira árvore
festeira do renascimento natalino. só sinto falta dos piscas – tantas
vezes desejo cercar o abajour de piscas para vencer a tristeza (daí
reformulo a gana com a hipócrita necessidade de reduzir os consumos
inúteis de energia quando energia me falta). no que tange a perfeita
alquimia, para as bananeiras melhor seriam pirilampos. já as renas nunca
vi. nunca vi passar rena alguma, nem ouvi tilintar de sinos a meia
noite. devia estar dormindo. tenho cultivado sambas embora nada saiba
sobre o majestoso de sambar. sambas que pisam chão de terra batida e que
não são menores que os cantos sob sinos (não fosse a discriminação do
“hierarquicamente superior” sugerida pelos intelectuais). nem sei porque
escrevi tudo isto para falar de uma festa para qual não ligo a mínima
mas não deixo de comemorar (são os costumes, diga-se, e o respeito à
mesa posta). o fato é que deixei voar as renas, dispensei a barba, o
veludo e o saco de presentes (os tempos são outros); voaram os
pirilampos para bem longe por causa da poluição e a bananeira, uma
fileira de bananeiras ficou depositada no meu imaginário junto dos gatos
que miavam no terreiro da chácara dos meus avós (que eram estrangeiros e
que antes de tudo gostavam mesmo de pinheiros).
Penélope Martins
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